quinta-feira, 23 de outubro de 2008

...Lavando a roupa suja...

Sábado a noite,
Naquelas conversas desocupadas no MSN,
eu e uma amiga solteira.

O Assunto é fatídico:
Casamento.
Namoros e afins.
Enrolar-se de novo.

Pra dificultar as coisas asseguro que tenho uma longa lista, das quais o cabra tem que preencher todos os requisitos, pra que eu possa pensar,
veja bem:apenas e tão somente, pensar, na possibilidade,
de amarrar meu jegue de novo.

Digo que contei pra minha mãe os itens e ela achou um absurdo eu querer que o “pobrezinho” lave a própria roupa,

Veja bem, eu não quero que ele lave a minha roupa,
Quero apenas e tão somente que seja capaz de lavar suas as suas próprias,
E não só as cuecas, como muitos se gabam de fazer, como se fosse um favor.

Minha amiga fica curiosa com o teor da lista, lá vou eu então enumerar:

O Camarada não pode ser ciumento,
Mas também, nada de me deixar jogada ao vento.
Cuidados sem posse.
Até por que não dá pra se possuir pessoas.
Só se possui coisas.

Deve saber partilhar na mesma medida que saiba manter a individualidade.
Deve entender que haverá amigos nossos, e amigos de cada um.
E que isto é bom.

Deve saber estar junto e saber estar só.
E saber que isto também é bom.


É imprescindível que goste de trabalhar, muito.
E que goste de descansar também.
Que goste da vida.
Na mesma medida.
Pode e deve gostar de futebol.

Se gostar de bichinhos,
Deverá saber banhá-los, limpar-lhes a sujeira, dar água e comida.
Não basta amar. Tem que cuidar.

Deve ter bom humor,
Mas é importante que tenha além da leveza, profundidade.
Deve ter o mínimo de consciência política.
Mas pelo amor de Deus, deve saber a hora de falar sobre suas convicções.



Não deve ser lindo, homem bonito dá muito trabalho e as vezes falta-lhe cérebro.
Mas também não pode ser um ogro.
Deve ter charme e saber usá-lo.


O sujeito deve saber cozinhar,
E mais que isto deve saber limpar a cozinha depois que fizer a comida.
Nada de deixar tudo imundo e se achar o máximo só porque sabe fazer um macarrão e largar tudo engordurado para eu limpar.

Caso goste de café, deve saber fazer.
Um homem que não sabe coar seu próprio café é um legume.

O sujeito, deve saber lavar suas próprias roupas.
E passar.
(minha mãe abominou este item. Me interrompeu na hora e disse que isto é um absurdo)
Mas veja bem, não digo que fará isto sempre, mas deve saber fazer.
Ou ganhar muito dinheiro pra pagar quem faça isto, sempre, por ele.

...neste ponto minha amiga também me interrompe alarmada:

-Eliana, não existe esta pessoa!

- Claro que existe! Eu sou assim. Item por item.

- Mas criatura, você é mulher. Não existe homem assim.

...Pois é.

Detalhe importante.
Eu sou mulher.
...
Enfim, na verdade a lista vai pro brejo na hora que nos apaixonamos.

Mas, falando sério:

Eu não sou ciumenta, mas sei bem fazer o sujeito se sentir cuidado.
Sei estar junto e sei estar longe.
Amo trabalhar.
Amo a vida.
Gosto de futebol.
Gosto de bicho e dou banho na minha cachorrinha.

Tenho bom humor.
Rio mais de mim do que dos outros.
Ah, esta parte ai das convicções estou aprendendo sobre a hora...
Por isto tem de ser alguém que me ajude com isto.

Não sou linda, mas também não sou uma ogra.
Sei cozinhar, e limpo a cozinha depois.

E, pelos Céus, eu lavo minha própria roupa!

...Minha amiga diz que isto é demais pra eles.
Minha mãe diz : Coitadinho, ai é demais!!!

...pois é.

Acho melhor eu apostar na tecnologia moderna e comprar o último modelo da Brastemp.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

...alma sem lua.

Noite sem lua,
Daquelas cujo breu já é o suficiente pra despertar temores.

Ela sai pra colocar ração para os cães.
A porta da sala fica na lateral da área, que é no segundo andar da casa.
Esta área tem continuidade em frente as grandes vidraças da sala.
E é ali que ela está quando uma vizinha grita:

“-Cuidado, tem um sujeito ai no seu quintal.”

O dito sujeito havia invadido uma casa, cerca de três abaixo da sua, pego de surpresa, subiu no telhado, e foi pulando de casa em casa até se deparar com o sobrado.

Ela,
Estática, sem coragem de olhar para trás...
Só queria alimentar seus cães e dormir.
Sonhar, talvez, com o amor que viria e mudaria toda sua vida.

Ele,
arfando, alucinado de torpor, embriagues, fome e medo se misturam.
Ele só queria conseguir alguma coisa pra vender e fazer uns trocados.
Precisava de mais uma dose para atravessar a noite.

E agora estavam ali.
Frente a frente.

Ele tenta se aproximar, tocá-la, mostrar que não lhe fará mal,
Ela vê em seus olhos o olhar de um animal.
Não vê o medo. Vê o brilho e identifica uma fera selvagem.


A vizinha que vê tudo da rua começa a gritar;
Os vizinhos acordam.
Sua irmã dentro de casa começa a gritar também.
Ela não tem como alcançar a porta da sala. Ele está no caminho. Olhos vermelhos. Olhos nos quais,finalmente ela identifica a fome. Fome e vício, nitidos no brilho do olhar. E naquele momento aquela fome, podia ser fome dela.

Só vê uma solução.
Começa a esmurrar os vidros da sala, até que ele arrebenta debaixo do seu punho.
Sente o caco de vidro se enterrar na carne do seu braço,
o sangue jorra.
Enfia a mão pelo buraco, abre o vidro, e joga seu corpo pra dentro.
Ainda se sente as mãos dele tentando pegar sua perna...

Já lá dentro ouve os vizinhos se aproximar.
Um deles tem uma enxada nas mãos.
Vários se juntam e caçam o homem.
...ela corre pro quintal a tempo de vê-lo sentado nas escadas protegendo o rosto com as mãos.

Naquele momento o tempo parou.

Seu peito se encheu de uma profunda dormencia e ela não viu mais uma fera.
Viu um homem, sozinho e com medo.Mais medo do que ela...

Medo da vida. Medo de seus vícios que o fizeram escória do mundo.
Medo do animal que carrega dentro de si.

Ela pede que o deixem ir.

E ele some no meio da noite...
Camisa rasgada, ferido...
Antes de partir lhe lança um ultimo olhar.
Ela nunca esqueceu aquele olhar de vício.
Vício e medo.
Escória do mundo. Bicho.
Bicho sozinho.

Naquela noite ela dormiu por cima do braço ferido.
E a alma, estava de outra cor.
Ficou com a cor da noite.
Alma sem lua.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Cont Ato.

A pele.
O cheiro.
O riso.
A cumplicidade no olhar,
nas palavras.
O tênue fio que nos separa.
A linha, a divisória.
O instante que a ultrapassamos.
O momento exato que o contato passou a ser tato.

Tateamos mutuamente nosso corpo.
Tateamos com o olhar.
Tateamos com o olfato.
Depois com as mãos.
Por fim com a língua.

Nos encontramos um no outro.
Nos abrigamos um no outro.

Não somos mais um ou outro.

Somos nós.
Fincados,
atados,
entrelaçados.
Lambuzados.

Somos dois,
Mas sabemos a hora,
(E só nos sabemos)
Em que procuramos por nós dentro do outro.
E encontramos.

...me encontro no meio de ti, no centro de ti, na sua boca.
...você se descobre no meio de mim, no centro de mim, na minha boca.

...e nada mais importa.
Só seu corpo em mim. Assim.
Só o Tato.
O contato.
O ato.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Menino.

Naquele dia ele saíra pra sua caminhada mais cedo.

Acordara com o peito ardendo...ardendo de uma saudade inexplicável de alguém que ele não conseguia se lembrar quem era.

Tinha certeza que devia ter sonhado com alguém, e mesmo sem conseguir se lembrar com quem, a sensação de perda o incomodava demais para continuar na cama...
Desceu os degraus pausadamente,
suas filhas sempre ralhavam com ele quando descia os degraus saltando de dois em dois...
Aquilo também o incomodava: Ser tratado como criança era ainda pior do que ser tratado como velho.
Mas naquela manhã, por algum motivo, ele entendeu que devia descer devagar...

O sonho, aquele que ele não lembrava, lhe martelou os pensamentos enquanto comia uma fruta e coava o café.
“Pretinho” era assim que suas tias confabulavam entre elas na hora de tomar o primeiro gole do café recém coado.
Município pequeno, no meio de algum lugar, ou de lugar nenhum, quase todas as moradias de sua meninice eram de várias casas dividindo um mesmo quintal, e por certo tempo seus pais moraram no mesmo quintal com as tias...
E era assim de manhã e de tarde, quem coasse primeiro o café, naqueles grossos coadores de pano, gritava pra da outra casa: “Quer tomar um pretinho??”...
Nem sabia o porque de se lembrar daquilo agora, mas a memória correu solta ao aroma do café que agora, ele próprio coava...
Sem ninguém pra lhe fazer companhia.

Sorveu o liquido com pressa, como que pra espantar as lembranças e saiu pra caminhar.
A saudade, aquela inexplicável sensação de lembrança, perda e presença seguiam com ele o caminho.
Ele sabia que a devia ter sido um sonho.
Caminhou pelas ruas lembrando de suas musas.

A finada, companheira por anos, não lhe despertaria esta sensação... Quando ela se foi os dias sempre iguais de dor e morfina já lhe corroíam até a alma e foi um alivio seu último suspiro.
A enterrou na certeza do dever cumprido. Esteve com ela até o fim. Mas os anos de saúde não foram tão bons a ponto de querer morrer junto.
Depois disto resolveu aproveitar seu charme cinquentão e aí sim, vieram musas capazes de deixar saudades.
Mulheres de todos os tipos. Mulheres que marcam e se deixam marcar.
Boas lembranças.
Lembranças de volúpia e prazer, mas não de amor.
Portanto nenhuma delas devia ser a causa do seu “desgaste pós-sonhos.”.

Não se deixou prender, afinal, ao longo dos anos tudo o que fez foi cortar vínculos.
Tão logo pode deixou pra trás o Município de nascença, o quintal com as tias e seus “pretinhos”, e logo acustumou-se a visitar a mãe só no Natal. Depois, nem isto.
Mandava um cartão, um cheque e tava tudo certo.
Aquele menino levado, que olhava pro céu procurando pipas ficou para trás e ele nunca voltou para buscá-lo.
Incomodava o olhar da mãe, que sempre o fazia lembrar do menino que fora.

...sentou-se em um velho banco do passeio, e foi quando vindo de longe viu algo que fez seu peito se torcer:
Um cãozinho.
Um cãozinho todo branco, e com uma máscara preta ao redor dos olhos e orelhas.
Era igualzinho o cãozinho de sua infância.
Sem raça, vira-lata, seu pai o trouxe em uma caixa em uma fria noite de inferno.
Cuidou dele, o aqueceu com seu próprio corpo, lhe catou as pulgas, cuidou pra que tivesse água fresca...Mais tarde, correu com ele, rolou com ele, se sujou com ele.
Um dia, manhã de sol, bateram na porta pra avisar que o um caminhão de “Coca-Cola” havia atropelado o seu Menino.
Ficou preso na roda e rodou junto com ela.
Levou o bichinho pra um terreno baldio em frente de casa... enterrou ali.
Era um terreno rebaixado, e no fundo passava um córrego.
Ali fez uma linda sepultura, e deixou seu bichinho.
Na manhã seguinte voltou, e na outra também.
Qual não foi seu horror quando na terceira manhã encontrou a sepultura aberta, e lá embaixo, preso em galhos, na correnteza do córrego o corpo do seu amigo.
Um garoto já grande, conhecido por suas malvadezas, desenterrou e jogou-o no rio...
Mas o corpo não foi.Ficou preso.
E durante um tempo, que ele nunca soube dizer quanto, mas que nunca esquecerá o quão longo e doloroso, ele voltou lá todas as manhãs...e viu seu amigo se decompor no rio.
Nos primeiros dias chorava.
Chorava ali na beira do córrego e chorava a noite em sua cama.
Depois o choro secou.
E secou a alma também.

Nunca mais chorou por mais nada.
Não chorou quando se formou.
Nem quando casou.
Nem quando os seus pais faleceram.
Nem mesmo quando as meninas vieram.
Nem mesmo mais tarde quando os netos lhe trouxeram um nó na garganta ao falar “vovô”...

...De repente, sozinho ali, vendo aquele cãozinho passar ele lembrou do sonho.
Sonhara com o Menino. Era este o nome do seu cãozinho.
Então, ali, sentado, ele chorou...
Chorou copiosamente.
Chorou e bebeu suas próprias lágrimas, chorava e sorvia as lágrimas com gosto.
Deixou elas caírem até lhe lavarem a alma.
Alma pesada.
Alma de quem nunca soube se dar por inteiro.
Alma que só soube sentir saudades de um cãozinho.

...
Poucos dias depois, quando os netos foram lhe visitar encontraram-no rolando no jardim, com um filhote branco e preto.
E nos seus olhos, eles viram, um brilho diferente quando os chamou para se unir a brincadeira e lhes dizer que aquele filhote era um presente para eles...e que ele iria todas as tardes vistitá-los: aos netos e ao filhote...

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Celular : Aparelho telefônico ou localizador???

Resistente que fui ao celular até o fim do ano passado, ainda me pego travando algumas batalhas com este aparelhinho...

Confesso que já estava me sentindo um dinossauro, o ultimo deles, quando me curvei a evidencia de que deveria ter um, mas mesmo assim não conseguia entender para que precisava ser achada quando estivesse indo, ou vindo....
Se estou em casa estou em casa, lá tem telefone, se estou no trabalho estou no trabalho, e se realmente for importante é só ligar nestes lugares...
esta era minha filosofia.

Pra que diabos preciso se encontrada no trajeto????Filosofava eu.
Você já respondeu a pergunta impertinente: “onde você está?”
“Estou indo, estou indo...”
Mas o povo quer saber a estação, o ponto de ônibus, o kilometro da Rodovia e tudo o mais que puder...Não se contentam mais em ver que você chegou na hora ou com atraso de 10 minutos....eles querem saber onde você está.
Eu costumo ser britânica, dificilmente me atraso, mas mesmo assim ainda recebo este tipo de ligação...
Juro que a vontade é gritar: "Estou a caminho, e estou no horário...onde estou não é da sua conta!!!!!!!!!!"
E quantas vezes você já viu, o sujeito ao seu lado, na estação Jabaquara responder: “Estou na Sé, daqui a pouco estou ai.”
E outra indo pra Barra Funda dizer: “estou chegando em Artur Alvim...mas vou atrasar um pouco...vi que ta um congestionamento...”Já perdi a conta de quantas e de quais diversas modalidades destas conversas já ouvi. As mais bizarras e hilárias.

Agora pensa: você sai do trabalho as 18 horas. 18h30 alguém te liga, você mal consegue se mexer e ainda tem que detectar se o celular tocando é o seu ou não...diagnóstico feito você atende e o sujeito do outro lado dispara: “onde você está?”
“Raios, estou entalada, tentando segurar a porcaria do aparelho, e tentando parecer educada enquanto respondo, pois tem dezenas de pares de ouvidos atentos a nossa conversa!!”...é isto que penso, mas respondo apenas: "estou no Tatuapé." Muito provavelmente ainda estou no Brás.

E os sons?
Meu Deus, são tantos e tão variados, mas ainda não adeqüei o meu aos meus ouvidos.
Quem já tentou me ligar no celular sabe minha incapacidade de ouvi-lo quando estou na rua.
Sempre tenho a sensação de que tem uma musiquinha me acompanhando, mas nunca lembro que é o bendito aparelho...e lá se vão dezenas de chamadas não atendidas. Chega a ser ridículo, mas só vejo que meu aparelho está chamando quando estou com ele na mesa do trabalho, ou no estante da sala de casa, a principio, lugares onde não precisam me ligar no celular...
...sem contar as infinitas vezes que o perco.
Mas, como uso ele de relógio, logo sinto falta e lá vou eu ligar e esperar pra ouvir o tal toque por perto...
Uma vez depois de muita procura, e muito aguçar de ouvidos, consegui localizá-lo dentro do cesto de roupa sujas, bem lá no fundo, pobrezinho...

...Mas, vida que dá voltas e modernidades que nos viciam, percebo-me completamente enredada pelo tal aparelhinho...
Dia destes, faltavam cinco minutos para o horário que combinei de minha filha chegar.... lá vou eu:
Disco o número e ao primeiro sinal de Alô, disparo:
“Onde você está????”

E não é que esta tranqueira é mesmo útil???

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Chão Azul

Noite linda,
Estrelas no chão, chão azul.

Contato,
Cheiro,
Toque.
Boca e pele.
Pele na pele.
Boca na boca.
Boca na pele.
Olhos que se devoram.
Movimento Lento,
Sentimento máximo.
Calma, alma...Tudo ser perde.

Água, pedra,
corpo no corpo.
Pernas e braços se misturam,
Se apóiam, se medem.
Se contorcem, se esforçam, se abandonam.
Desespero, tremor, ardor.
Corpos desfalecidos sobre lençóis.
Chocolate na boca,
olhos cor de noite,
Cílios Longos,
Noite Curta.

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