sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Rugas.

Hoje descobri uma nova ruga no meu rosto.
Gostei dela. Até tirei uma foto.

Lembro que a primeira que eu notei foi aos 25 anos. E lá se vão quase 08 anos.

Naquela época pareceu-me uma afronta da natureza lembrar-me que o tempo passou, sem eu notar.
Que a menina que eu sentia em mim, agora se escondia dentro de um outro corpo, que envelhecia...

A ruga.
Foi ela na época que me trouxe a lembrança de que o tempo passa, e é curto demais.
Foi ela que me assustou com a gritante verdade de que, como tudo na vida, passamos também.

Uma ruga.
No canto da boca.

Aos 25 anos comecei a viver a Crise dos trinta.
Eu não podia chegar aos trinta sem antes valer as rugas que ganharia até lá.
Sim, afinal sempre havia visto beleza na maturidade, mas as rugas estavam chegando e a maturidade cadê????Força eu já tinha faz tempo, mas e coragem pra assumir esta força??

Por causa das rugas,
por respeito a elas, e ao seu sublime significado,
eu resolvi que era hora de assumir minhas verdades. Ou pelo menos partir em busca delas.
Ai vieram várias outras...

Crises e rugas.
Todas muito bem aceitas.


Descobri que elas falam muito.
De mim e dos outros.

Mostram-me o tanto que eu ri. O tanto que se eu chorei
O tanto que apertei os olhos pra ver melhor ou pra fugir do sol.
Contam-me dos meus dias, das noites que dormi bem, quando elas quase somem...
Das noites mal-dormidas em que elas se evidenciam.

Contam-me do amor bem feito, que me fazem esquecer que elas existem.

Gosto delas.
Desta de hoje especialmente.
Ela me mostra a mulher que me tornei,
na certeza de que minha história só começou e eu já estou no lucro.

...sim. Gosto das minhas marcas.
Principalmente as de fora.

As de dentro preocupam muito mais.

“Hoje ando devagar, por que já tive pressa...”

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Na falta de tempo, música...sempre!

...Uma semana sem passar por aqui.
...quem nunca sonhou em ser dois, nos tempos de tempo curto e atividades frenéticas???
...pois é.
Se descobrir a poção mágica pra isto manda pra mim, estou precisando.

Enquanto a vida real continua, e cada um de nós é um só, o jeito é anotar cá e lá, os detalhes da vida...pra não deixar a vida passar.
...e isto eu tenho feito.

Hoje vim marcar minha semana lembrando aquilo que desejo pros amigos.
Lembrando do que tento viver.


Amor pra recomeçar
Frejat

Composição: Frejat/Mauricio Barros/Mauro Sta. Cecília

Eu te desejo
Não parar tão cedo
Pois toda idade temPrazer e medo...

E com os que erramFeio e bastante
Que você consigaSer tolerante...

Quando você ficar triste
Que seja por um dia
E não o ano inteiro

E que você descubraQue rir é bom
Mas que rir de tudoÉ desespero...

Desejo!Que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amorPrá recomeçar

Eu te desejo muitos amigos
Mas que em umVocê possa confiar
E que tenha atéInimigos
Prá você não deixarDe duvidar...

Eu desejo!Que você ganhe dinheiro
Pois é precisoViver também
E que você diga a ele
Pelo menos uma vez
Quem é mesmoO dono de quem...

Desejo!Que você tenha a quem amarE quando estiver bem cansadoAinda, exista amorPrá recomeçar...Eu desejo!Que você tenha a quem amarE quando estiver bem cansadoAinda, exista amorPrá recomeçarPrá recomeçarPrá recomeçar...´"

É isto ai. mesmo bem cansados, que tenhamos sempre amor pra recomeçar.
Tudo. Sempre.

Amanhã é um novo dia.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

21/08. Um bom dia pra recomeçar a olhar o Luar.

Acabo de ler um dos excelentes textos da Vivi... Inclusive, anote ai, vale muito passear por lá http://preteritopassado.blogspot.com/,

Amanheci com aquela dor bestial que sentimos no fim... mesmo quando sabemos que o fim era a única atitude digna a ser tomada.

Aquela coisa ridícula de lembrar que era pra ser “até que a morte os separe.”

E ai você descobre que pra continuar aquilo teria mesmo que morrer.

E até se finge de morta.
Mas só dá certo por um tempo.
Depois desconfia que se já está morta mesmo, então pode por fim naquela brincadeira de mal gosto, onde só os outros estão bem felizes por vocês não entrarem para as estatísticas do divórcio. Divórcio este que já completou maioridade há um tempão, mas que ainda causa sensações diversas, das mais primárias.
Ouvi coisas das mais absurdas, todas no “bom intuito de preservar a família.”
Mas o que é família afinal?..Isto já é outra história... Outro texto que deixo pra outro dia...

Voltemos à dor bestial.
Chamo assim, pois é o cúmulo da “burrice” sentir dor quando é o certo, você sabe.

É o melhor,
o mais digno,
a saída mais honrosa,

Mas nem por isto dói menos.

Ai lembro que certa vez um querido, que tenho a ousadia de chamar de amigo, me lembrou que tudo passa. Absolutamente tudo na vida, passa. E esta lembrança não tira a dor, mas me permite senti-la sem culpa.
Vai passar também.
E se dói, é natural.

Dói arrancar espinho da carne.
Muitas vezes dói mais tirar, do que deixar lá.
Com o tempo a carne acostuma com aquele ser estranho e nem dói mais...
e é ai que mora o perigo...
acostumar-se com algo que não devia estar lá...mas está.
É feio, infecciona , nada produz, mas acostumamos a deixar lá...

Sempre tive muito medo de me acostumar com a vida, ao contrário de vive-la.
Me arrastar pela vida, ao invés de dançar com ela.
Eu já chamei a vida pra dançar comigo, há muito tempo.

Não acredito mais em uma porção de coisas que já acreditei um dia,
Mas ainda acredito que isto aqui tem de valer a pena.
Esta coisa que pulsa, e não é sangue, esta coisa que incendeia meu peito, esta coisa forte que sinto por dentro, na alma, isto tem de valer a pena...
Esta coisa chamada vida tem que valer a pena. Tem que valer o risco.
Mesmo que pra valer a pena, às vezes, tenha de doer.


Enfim....
Estava assim, com esta coisa estranha, que fica na garganta, na hora de consumar o adeus e li um texto, do blog que indico lá em cima, que me fez lembrar que nunca gostei de brincar de casinha.
Talvez seja esta a questão...
preciso brincar do que gosto.

Por hora, vou lembrar que dia 21 é também dia de tributo em homenagem aos 19 anos em memória de Raul...vou lembrar que vou poder sair em passeata como a adolescente que um dia não fui, vou poder sentar na praça, rir sem motivo, chorar se for preciso, sem dar explicações...Vou lembrar que já foi pago o preço que foi preciso pra garantir o que é meu por direito: Ser eu mesma.

Esse eu assim, meio louco, meio incerto, meio curioso, meio menina...Um eu assim, todo meio, pra poder ser inteiro, só eu.

Então olho pro céu, vejo aquela lua enorme (e que lua!!! alguém viu a lua hoje as 20h00?? Estarrecedora de tão linda!) me sinto forte, a dor quase some...fica a certeza de que mais uma vez, fiz o que devia ter feito. E ponto.

18/08/2008 – Segunda-feira. Segunda-feira de um luar apaixonante...

"Lua Bonita, se tú não fosses casada, pedia ao Nosso Senhor, pra contigo me casar!!!"

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Presidente da República?

“Você ainda será presidente da República....”

Este era um de seus muitos delírios.

Lembrava dele assim: Delirante, empolgante, andar apressado (sua mãe falara que ela herdara dele este costume), óculos equilibrado na ponta do nariz, enquanto parava entre uma passada e outra pra ler algo dos muitos papeis que sempre carregava.

Ele costumava falar: Um dia você vai dizer: "Nunca vi meu pai sem um livro na mão."
Dos livros ela não tinha certeza, mas papeis... isto ela sabia: Ele sempre andava com muitos!
De quando em quando entregava-lhe um e ordenava:
- Lê pra eu ouvir.
E ela lia.
Já preocupada em observar os detalhes pois sabia que depois viria o questionário...
e também tinha as vírgulas, os pontos a intonação da voz...Devia prestar atenção em tudo, pra despertar-lhe o orgulho. E devia fingir muito interesse também, pois isto renderia a admiração dele.
Quase sempre era um texto dele mesmo, que trazia para ela ler...egocêntrico e apaixonado por suas próprias ideias ele fazia dela sua plateia.
Mas tinha outras.
Afinal para ele o mundo era sua plateia.Uma plateia que ele queria marcar.
Em seus muitos planos, o principal era deixar sua marca enquanto mudava o mundo.

Desta vez ele a fez ir em uma passeata dos “sem-terra”, ou “sem-moradia”, sei lá o termo certo, o fato é que eles se organizaram e invadiram uns terrenos perto de onde ele morava...e lá estava ele. No meio. Ajudando a marcar os terrenos, a organizar a coisa toda... E lá estava ela...com ele.

Uma chuva danada e ela andando, a Av: Nordestina todinha, debaixo de chuva, de Guainases a São Miguel Paulista. Com faixas e gritos de ordem. Foi dai que ela adquiriu seu gosto pela chuva.

Dias antes, em confronto com a policia morrera um dos “sem-terra”, Adão.Ela nunca esquecera este nome...
Ela, emocionada, resolveu escrever um texto e imitando-o deu para ele ler.
Ele, certo de que nascia ali uma revolucionária, resolveu lá no local da concentração chamar os jornalistas e dizer que uma criança tinha um texto para ler, sobre o Adão.
Ávidos por noticias do acontecido, juntaram–se em seu redor: luzes, câmaras, microfones.

Ela: papel molhado de chuva, esmigalhado, as mãozinhas pequenas tremendo na vontade de que ele tivesse orgulho dela
Leu, com ponto, vírgula e com sua melhor intonação!

Assim que acabou seu belo texto, o primeiro que pôde perguntou:
- Você viu a hora que o Adão tomou o tiro?
- Não. Eu soube pela televisão.
Silêncio.
Então ela não era uma pobre menina, sem terra e sem lar, que viu um ente querido, na luta por dignidade, tombar diante de seus olhos???
Imediatamente as luzes cessaram, os microfones se abaixaram e todos lhe deram as costas...

Ela queria que um buraco a engolisse.
Cadê ele? ...estava em algum lugar, tentando mudar o mundo.

Ela ficou ali, sozinha.
Com o seu papelzinho roto nas mãos, uma vergonha que lhe engolia a alma, e uma certeza:
Ela não queria ser Presidente da República.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Amnésia

Aos setenta e quatro anos ela acordou se sentindo velha.

Até ontem não havia percebido que aquelas dores nas pernas não eram passageiras.
Até ontem ela acreditava que a dor nas pernas era por conta das escadas. Ah, quantas escadas, por toda parte.
O alongamento diário parecia não mais fazer efeito, diante de tantas escadas.
E as escadas nem pareciam tantas, quanto o falecido comprou aquele sobrado.

Mas naquele dia, quando olhou no espelho se deu conta de que a pele já perdera o frescor da mocidade, os cabelos mal cobertos pela tinta, já eram ralos, sem brilho...
Naquela manhã se deu conta de que sua mão já não tinha a mesma agilidade e firmeza. E ela não havia tomado sua taça de vinho.
Sentou-se na velha poltrona do quarto, e ficou horas olhando a copa das árvores.
Lembrou-se de como aquela paisagem lhe alimentou por tantos anos,
De quantas vezes sua alma só encontrou calma no verde das folhas em contraste com o azul do céu.
Lembrou-se de como, anos antes, ali naquela mesma poltrona ela alimentou seu filho, e antes ainda, ali também amara seu único homem.
E o amara muito e de diversas formas por diversas vezes. Tantas e incontáveis vezes.

Durante toda aquela manhã ela tentou se lembrar de quando havia envelhecido e nem percebera.
Sim, as rugas já estavam lá há muito tempo, disto ela sabia, pois já lhe davam lugar nos coletivos há pelo menos uma década e meia.
Mas aquela canseira... Aquele enfado... Aquele medo de descer as escadas e descobrir que não conseguiria subir novamente...
Aquilo era novidade.


Aos setenta e quatro anos ele resolveu então, ter amnésia.
Colocou um moletom, camiseta com foto do Raul, um tenis no pé...Daqueles sem cadarço,
Passou batom, escolheu um anel bonito e um enfeite pro cabelo.
Desceu as escadas lentamente...
Antes de sair, jurou que iria mudar seu quarto pro andar de baixo.

Afinal, aquelas escadas estavam acabando com suas pernas!!!

Sou asas e sou raiz

Sou de múltiplas facetas.
Eu sou louca.
Sou filha da lua.Alma nua.
Sou assim: integral.

Eu sou da terra e do ar.
Conheço o gosto da lama do fundo do poço,
Eu sei do cheiro do ar da mais alta montanha...

Sou assim :Sou extrema.
Sou pra guerra a mais forte guerreira E pra paz sou aquela que ri...
Quero paz, ri pra mim.

Já perdi e conheço o gosto amargo do adeus,
Já morri e conheço o que é não ser mais.
Hoje vivo e sei quem eu sou,

Sou Menina, tenho medos,
Sou mulher...e não tenho medo de nada...Só de mim.

Sou a Vida e a vida emana de mim: eu sou mãe.
Sou Mãe de minha filha e mãe de minha mãe.
Nunca soube o que é ser filha.... por isto, peço colo.

Sou irmã e sou amiga de meus irmãos.
Sou amiga e sou irmã dos meus amigos.

Na independência esta minha força.Mas quero ser fraca.

Sou desatinada, desmedida e incontida.
Mas sou centrada.
Sou asas e sou raiz.
Pode apostar:Sou Eliana Klas.

(08/07/08)

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Caça às Bruxas

Escrever era como voar, se asas ela tivesse...

A alma pedia calma,
e calma ela só tinha quando escrevia..

Escrever era dolorido,
Colorido,
Era suspiro que saia das letras,
Letras que paria como um filho...

Mas escrever tornou-se um pecado, tornou-se a denúncia de que sua alma voava...
o que antes era gesto de liberdade se tornou arbitrariedade, contrariedade.

Tornaram medíocre o que pra ela era santo.

Viu todos seu papeis ardendo em uma fogueira,
seus sonhos de menina dilacerados, seus projetos de mulher enxovalhados,
sua vida exposta, sem direito de resposta.


Rastejou no meio das cinzas,
recolheu pedaços do seus versos, sentindo ainda o calor das brasas...
Sua carne queimava, mas ela nem sentia...
Doía- lhe os papeis que se perdiam para sempre...
Doía-lhe os versos roubados; muito mais do que a vida que lhe seria tirada.

Como animal lambeu seus folhetos, enxugou-os na pele, na vã tentativa de recuperar sua alma.
Mas era tarde...A multidão embrutecida já notara que ela se preparava pra voar novamente...
Tiraram a pena de sua mão, rasgaram todos os papeis, esconderam as tintas...
lhe condenaram a morte.

Ninguém percebeu que quando seu corpo pendeu sem vida, a vida já havia lhe deixado, muito antes...no minuto que lhe tiraram os versos.


Eliana Klas.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Tá tudo bem.

Ela voltou atrás e ligou pra ele.
Ela estava decidida a não voltar atrás.
Mas voltou.
Afinal ele era seu pai.
O dia anterior fora o dia dos pais e ela não fora vê-lo.
Acordou com gosto amargo na boca, gosto dos que não souberam esquecer.
Perdoar era forte demais, ela não se dava o direito de julgá-lo a ponto de perdoar ou não.
Mas não conseguira esquecer.
Ele sempre a fazia lembrar.

Mas então ela lembrou que ele também trazia no peito uma dor.
Lembrou também dos passeios a pé pelo Centro da cidade que ele lhe apresentou...
Dos bancos de praça que ele se sentava cheio de papeis pra analisar e lia pra ela seus sonhos no papel...
Lembrou que foi ele que levou seu olhar pro Teatro Municipal, pro Viaduto do Chá, como um guia turístico, mostrando cá e lá...
Era disto que ela lembrava mais e ele tinha de saber.

Pai, eu te amo. Pode não parecer mais eu te amo.
Silêncio do lado de lá...e então a resposta:
Ta bom. Tá tudo bem. Isto a gente conversar outra hora.

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