sexta-feira, 24 de julho de 2009

...Quando o adeus é só o começo.

Desespero de minh’alma,
Desassossego que me trouxe sua presença e logo em seus braços fui encontrar pouso.

Logo ali, em sua vida sem rumo, fui achar sossego pro meu corpo, pros meus gostos pros cheiros todos que sempre procurei.

Não havia em você nenhuma verdade, e mesmo assim abracei-te tão forte que quis te ter dentro de mim.
Todas as vezes que mentia pra mim eu acreditava...
O teu cheiro foi fazendo parte do que eu era.
Abraçar-te era pouco, eu queria estar dentro de você.

E mesmo assim você se foi, perdido nas suas noites mal-dormidas, nas suas histórias mal contadas, nos seus afagos já negados.

Mesmo que eu te quisesse, mesmo que eu aceitasse, mesmo que eu tivesse me calado sei você que teria partido.

Teria partido, pois construímos um abismo entre nossas vontades, entre nossos sonhos, entre nossos quereres.
Teria partido, pois eu ainda não sei servir a outro alguém.
Teria partido, pois o que procuravas em mim não poderia encontrar.
Sou feita de outro tipo de matéria, e isto que urge em mim precisa ser moldado pra enfim pertencer a outro alguém.

Posso amar-te, e beber do seu gosto, mas não posso corromper meus sentidos.
Não posso negar minhas asas, cortar meus caminhos, romper com meus princípios.

Amava o cheiro da sua boca, e se fechar os olhos ainda posso senti-lo.
O seu abraço foi o melhor abraço que eu já tive e o seu beijo fez poesia em mim.
...mas existe um lugar onde quero chegar e lá eu só posso entrar acompanhada de quem sabe onde está indo.

Eu me desmonto sem você, mas ao teu lado eu perdi o brilho o senso o rumo.
O medo de perder-te fez de mim fraca, falha, desnorteada.
O medo de perdê-lo me fez perder-te mais rápido,
mas quando te perdi percebi que finalmente eu havia me encontrado novamente.

Eu sei onde estou indo.
Sem você fará mais frio, não haverá música, não haverá torcida, nem afagos, mas eu vou chegar.
Vou pra lá sozinha se for preciso, mas vou chegar.

...Ainda que tua falta me maltrate,
Não ter você será apenas mais um motivo pra eu caminhar.
Eu sei que tem uma quantidade enorme de coisas grandes esperando por mim...e eu vou buscá-las.

Te perder me fez ter certeza que estou no caminho certo e que este caminho, se for preciso, trilharei sozinha.
Um dia nos encontraremos.
Até lá espero estar imune ao que o teu cheiro me causa.

E que nem mesmo o desvario de meus amores me faça implorar pelo ultimo beijo...o beijo que não demos.

Que em nosso futuro encontro eu te encontre devidamente encontrado consigo mesmo.
Que você encontre rumo nos seus dias, e eu, certeza nos meus.

E ai... Ai terei certeza de que o adeus só nos fez bem.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Amor com cheiro de pão.

Madalena o espreitava todos os dias, por traz das grades do portão velho da casa igualmente velha.

Ela já sabia o horário que ele iria sair pra comprar pão.

Aprumava-se toda e descia as escadas correndo, grudava o rosto na grade fria do portão.

Olhos brilhando na certeza de que dali a pouco ele surgiria diante de seus olhos.
Cabelos molhados, camiseta, bermuda, chinelo havaianas.

Ela poderia sentir o cheiro de sabonete, mesmo assim de longe.
E quanto voltava o cheiro dele se misturava ao cheiro de pão quente que a imaginação dela produzia.

Ele iria olhar pra ela de rabo de olho e fazer de conta que não notava que todo dia ela estava lá...esperando por ele.

Depois de alguns meses ele mudou o horário de buscar o pão, ou não buscava mais.

Ela resolveu montar guarda cada dia em um horário, em turnos de duas horas, durante toda a manhã, de forma a descobrir que horas afinal ele buscava o pão.
E logo descobriu que agora quem buscava o pão era dona Emercina, a mãe do rapazote.
Pensou em perguntar por onde andava o menino...mas desistiu...seria ridículo.

Resolveu então descobrir se havia outro horário que ele passasse em frente ao seu portão.
Logo descobriu que não.
Ele evaporou no ar.
E assim foi durante um longo mês.

Até que em uma fria manhã da primeira semana de agosto ele passou de novo.
Ela, sentada nas escadas, já desistira de esperar por ele.
Apenas descia, no mesmo horário, pois já virara um costume e de certa maneira era uma forma de senti-lo perto.
...e ali sentada, olhar perdido no muro do outro lado da rua, ela o viu passar.
Perfumado. Camisa de manga comprida, calça jeans, sapato de couro.
O cabelo com gel modelava o rosto de anjo e o andar já não era mais do menino que conheceu. Agora ele andava estufando o peito, ombros largos marcando a camisa de pano fino.
...Olhou na direção dela.
E sorriu.

Madalena agora sabia que ele não era mais o moleque bobo que fingia não vê-la.
Finalmente ele sorriu para ela!

E na manhã seguinte de novo e na outra também.
E logo não era ela somente que o esperava pela manhã. De tarde quando ela saia do colégio era ele que a esperava na frente do portão.

E de pão em pão, sorriso em sorriso foram travando este contato diário.

...nunca ser falaram.

Logo ela começou a trabalhar, estudar a noite e nunca mais o viu.


Anos mais tarde, sempre que ia comprar pão lembrava-se dele.

Lembrava do menino que passava férias longe e sempre que voltava parecia ter crescido um palmo.
Lembrava do cheiro de sabonete, do cabelo com gel e do sorriso largo.
E sempre acrescentava ao cheiro dele, o cheiro de pão quente.

Lembrava da última vez que o virá, na porta do colégio, no último dia de aula.

Pensou que ele viria falar com ela, mas ele apenas sorriu.
Sorriso largo, mas tímido, de menino.

E seria esta a doce lembrança que o pão quente sempre lhe traria.

Até que um dia, ao sair da padaria esbarra em um homem...

Rosto marcante, com uma “sombra” de barba por fazer, cabelo com gel...
Ele pede desculpas pelo esbarrão e sorri.

...o sorriso... Sim! Era ele!

Ela devolve o sorriso, estende a mão e diz:

- Muito prazer, meu nome é Madalena, há anos que te vejo comprando pão.

Soltam uma gostosa gargalhada e voltam juntos pelo caminho, prenunciando que em breve só um deles iria comprar pão.
Para os dois.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Fim.

Depois de iniciar um sem fim de linhas inacabadas percebo que não há nada para escrever sobre o assunto.
Nada.

Apenas a certeza de que quase sempre se paga um preço alto demais por acreditar.


...o bom é que é inverno.
E fim combina com inverno.
...o outono irá chegar e junto com suas folhas amarelas pode ser que o vento leve pra longe de mim a saudade.

Mas e se não levar?

Fim. Fim e ponto.
Odeio pontos.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Insana.

Louca.
As roupas sujas, o cabelo despenteado, seu olhar perdido.
A noite toda parece estar dentro dela.

A voz rouca não sabe cantar, a boca seca como seca é a vida.
Os braços que outrora produziam sons, agora pendem ao lado do corpo e nada parece fazer sentido.
A rua longa.
As pessoas, todas, insuportáveis.

Em sua insanidade ela pensa que não a enxergam.
Acredita que só ela vê tudo, pensa que seu corpo enfadonho esconde-se atrás de seu silêncio. Se não responder será como se não estivesse ali.
Então se cala.
Ouve, mas faz que não está lá.
Calada pensa que se torna invisível e invisível não precisa ser gente.
Não precisa mais ter imagem, ter rosto pintado, boca manchada pelo batom.
Pode esquecer os cabelos em um novelo, como se fosse lã abandonada.
A pele sem vida, as mãos ásperas.
o corpo encurvado que sangra todo mês , insiste em lembrar que ela ainda está ali, mas ela pode mentir, dizer que não viu, que não sabe, que não é.

Anda pelo quintal, com fome.
Ela ainda sente fome.
Tanto faz se é dia, se faz sol, se é frio. Não sente frio mais.
O frio que vem de fora não pode alcançá-la. Nem o calor. Nada a alcança.
Nem a voz delas.
Nem a ausência dele.
Só as pedras que junta nas mãos e carrega pra um canto do quarto. Só as pedras a tocam.
As pedras que junta na mão e com calma escolhe no quintal.

As pedras estão ali. Ela não.
Ela já se foi, e só o corpo que sangra, permanece andando pelo quintal.
Louca. Insana. Completamente sozinha.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Princesa perdida.

O quarto cheio de fumaça intoxicava seus pulmões.

O lugar simples, beirando o promíscuo, em nada a incomodava.

Seu ser era volátil, e seu corpo acostumara a repousar dias em lençóis de cetim, dias em colcha cheirando a mofo.

Culpa de uma infância miserável passada em uma casa cheia de ratos de onde vez ou outra era tirada pelo padrinho que e levava a restaurantes e hotéis requintados.

Ele dizia que era para ela saber como se comportar em lugares “finos”.

E assim desenvolveu uma personalidade mista: Horas mesquinha e vil como uma ratazana suja, hora delicada e sutil como uma dama perfumada.

A fumaça não a deixava dormir.
Ele já havia apagado o último cigarro, mas o quarto pequeno não liberava a fumaça e ela sentia a cabeça rodar.
Ouvia os sons que vinha do corredor. Gente da noite, sem rumo e sem dono, passava por ali.
Ela se perguntava todo o tempo se aquilo era real, e qual o risco que corria.

O conheceu nas páginas de um site de relacionamento.
Perfil falso, desde o início ele criara uma atmosfera de “Fera” que ser esconde da “Bela” por medo de mostrar sua feiura.
Ela, centrada demais, realista demais, irritava-se com a brincadeira ao mesmo tempo cultivava simpatia pelo homem que sofria escondido atrás do desenho.
Por dias, por semanas, destilou o segredo, mas logo confirmou-se o que de feio escondia:
Ex-detento saíra da prisão havia dois meses.
Seu sonho, seu desejo de brinquedo era encontrar sua princesa vestida levemente e amá-la por toda uma noite.

Ela deu sua palavra.
Prometeu que lhe realizaria o sonho.
Ao menos se entregaria para ele. Ser princesa ela não sabia.
Perdida demais, perdera a muito seus sonhos.
E decidiu que alguém teria uma noite de sonho, já que todos os sonhos dela, desde menina, jamais haviam se realizado.

E saiu sozinha em uma noite de abril.

Foi conhecer a Fera. Encantou-se com seu jeito gentil e assim como a Fera do conto de fadas viu nele um príncipe.
Sonhou com ele seu sonho de brinquedo, e mesmo com seu vestido negro, como negra era sua alma, vestiu-se de princesa para ele.
Ele nunca se perguntou o porquê de o vestido ser negro: Ela não sabia ser princesa. E assim, indignamente vestira de negro a princesa dele.

O ar carregado queimava seus pulmões e ela por ouvir “eu te amo” se deu a ele como nunca se dera a nenhum outro.
Sentiu dor.
E ele, alucinado em levar a cabo seu desejo, sua vontade, sua fome; amou-a sem parar, ainda que ela sentisse dor.

...



Quando tudo acabou ela foi embora com medo de si mesma.
Com medo de uma coragem que beirava a insanidade.
Foi embora sentido no corpo dor e na alma medo. Medo em tentar descobrir o que foi que acontecera com seus sonhos de menina.

Seus cabelos cheiravam a cigarro, e como que se arrastando seguiu para seu apartamento.
Tentava lembrar quando foi que desistiu de seus sonhos.
Naquela noite chorou muito, chorou a dor de não poder amar como ele sonhava, chorou a lembrança de quando seu corpo era um castelo ganho a custa de muitas lutas.

Durante dias tentou acreditar que fizera mesmo aquilo.
Ela sabia que pareceria devasso aos olhos alheios.
Parecia devasso aos seus próprios olhos.

Mas ele...ele acreditava em sonhos. Acreditava em fadas...e a chamava de princesa.
Mesmo quando ela ser vestira de negro. Mesmo assim ele a chamara de princesa e dissera que a amava.

E foi assim: vestida de negro, em um quarto qualquer, repleto de fumaça,que ela se fingiu de princesa.
E seria este, para sempre, seu melhor conto de fadas.
Princesa, perdida.

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