quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O que temos para hoje?

Escrever é uma coisa complicada.
Mas já que eu fiz um pacto, comigo mesma, preciso escrever.
O complicado não é escrever, o difícil é perceber a fina linha que divide o que somos do que não queremos ser.
A linha que separa quem escreve, de quem lê.
A linha que separa o pensador, do vendedor de idéias.
O pensador, pensa, agonia, grita, geme, vomita.
O vendedor de idéias, envolve, enfeita, justifica, formata, molda e emoldura seu próprio vômito.
Não deixa de ser vomito, mas vem disfarçado, e disfarces sempre me incomodam.

Esta semana recebi a redenção: querendo tornar-me um pouco culta resolvi ler Clarice Lispector, e escolhi logo um apanhado de crônicas de quando ela escrevia para um jornal.
Não pode haver nada mais cru do que o que se lê em “Aprendendo a Viver”.
Claro que “ela” já era “ela”, com um nome projetado na literatura, quando escreveu os textos que compõem este livro, mas o seu gemido me é tão intimo que, leiga que era, sobre Clarice, fiquei assim meio sem entender a proporção de seu nome.
Fiquei meio ressabiada e perguntando-me por que diabos falam tanto de Lispector se nada de mais eu lia naquelas crônicas, que de crônicas tinha muito pouco.
Os pensamentos dela eram para mim tão meus, que eu não via nada de novo ali.
Fazia-me lembrar um diário...mas ali, página após página eu pude ver a alma de uma mulher que busca...busca, busca, busca.
Enquanto escreve ela não quer alcançar o outro, ela quer se alcançar... e assim, sem querer ela emociona e toca a quem lê.
Mas sem nenhuma intenção além de achar o mais fundo dela mesma em tudo que a cerca.

Às vezes são tantas idéias, tantas histórias que se formam dentro de nós, mas ao pintá-las no papel a vontade se acanha, a história se perde.
Hoje eu queria falar de tantas coisas, mas nem uma delas parece preencher aquilo que deveria caber neste espaço.
Hoje, talvez, tudo o que eu quero é um Sarau com amigos.
Esta noite perdi o sono pensando neste Sarau.
Imaginei como ele seria, imaginei amigos queridos, reunidos na sala de minha casa.
Eu tiraria todos os móveis da sala, e colocaria apenas um fofo tapete com muitas almofadas.
Todos entrariam sem sapatos, e sentaríamos ao som de uma musica tocada ali mesmo, por algum musico presente.
Mas seria só a canção, sem letra. Gosto da idéia de que seria o som de uma flauta.
Até sei que amiga a estaria tocando.
Quem sabe a minha filha já estaria dedilhando seu violão e se juntaria, uma vez, ao grupo de meus amigos.

Ah, haveria na varanda uma longa mesa com comidinhas que seriam trazidas pelos amigos. Cada um traria sua especialidade, e nada seria um fardo. Tudo seria com carinho, com vontade.
Eu estenderia o convite aos meus irmãos, mas pediria pelo “amor de Deus” para deixarem meus sobrinhos à vontade para não virem. Esta coisa de obrigar jovens a ir nos lugares é horrível.
Jovem tem seus compromissos, tem seus afazeres. Temos de respeitar o espaço que eles buscar conquistar.
Acho que não haveria cerveja.
Devo dizer que uma amiga me ensinou o prazer da boa cerveja, e desde então a tomo com prazer, saboreando e tateando-lhe com a língua.
Com moderação, sempre, pois o segredo dos santos é equilibrar a bandeja do bem e do mal.
Perdoem-me os adoradores da cerveja, mas eu tirei a cervejinha do meu sarau. Talvez seja por achar que falta romantismo as pessoas quando a bebem.
Gosto dela, mas ando cercada de gente que não a bebe com o devido respeito.
Bebe qualquer uma, em qualquer temperatura, por qualquer motivo.
A cerveja merece mais respeito, néctar amarelo que é...Sei lá, ando ofendida com o que vejo alguns fazerem dela. Então por respeito, não a convidei pro Sarau.
Quero introduzir a cerveja aos poucos, em meus saraus, até que todos entendam que beber é coisa sagrada. Há que se respeitar os limites.
Eu faria uma mistura de chás, cafés, chocolates quentes, e teria bebidinhas como licores e a velha e boa cachacinha pros cabras valentes e para as marias bonitas. Alias teria vários tipos de cachacinhas pra degustar.

Mas estranhamente, neste Sarau, o que embriagaria seriam os versos.
Todos leriam seus poemas favoritos, recitariam as letras de suas canções favoritas, a meia voz, ali, no meio da sala...
Haveria também alguns atores no bando, também já sei quais seriam, e estes nos encantariam com “a arte de imitar seres”.
Teria um grupo, hospedado em minha casa, que viria do Nordeste de meu Brasil, trazendo na bagagem seus próprios versos, para serem lidos ao grupo reunido em minha casa.
Haveria um senhor, que atende pelo nome de meu pai, e ele, bem, ele me deixaria aflita. até que de súbito ele me surpreenderia.. Ele leria versos, seus e de outros, mas se deixaria espatifar em uma almofada, rindo e tomando cachacinha sem preocupar-se demais em mudar o mundo.
Uma vez na vida ele não se levaria tão a sério e se daria o direito de relaxar um pouco. Ele reaprenderia a saber menos, e deixaria os outros pensarem que ele sabe pouco.
...Neste Sarau haveria algumas ausências.
Minha mãe não estaria lá. Não sei o motivo mas ela saiu. Não quis ficar. Fiquei triste com ela, , mas o que fazer não é? Os sarais são assim mesmo...sempre tem alguma ausência importante.
Meus irmãos viriam. Alguns vizinhos que são quase família.
Ah, tem uma família, que é inteira desordeira, mas que amo com tudo que tenho...eles estariam todos lá. Pulariam o muro que separa nossos quintais e viriam...trariam versos tímidos em papéis amassados, teriam vergonha e uns pediriam aos outros para lerem o que trouxeram...achariam estranho o ritual de tirar os sapatos e de não ter cerveja...ma viriam por me amarem.
...a noite correria mansa, com medo de acabar logo e matar o encanto do meu sarau.
Mas o sol viria e ainda nos encontraria ali...perdidos e embriagados nos versos e nas letras que alimentam minha alma.

...pois é... é isto que tenho para hoje,...um Sarau.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Rei nos Invejará.

Quando a lua chegar, modesta,
Imploro que tu venha e alise todo o meu corpo,
Despreza a falta do sol, deixa a noite nos acariciar.
Toca meu rosto,
meus cabelos,
minha pele.
Arrasta-se sobre mim com calma.
Esfrega teu rosto em meu pescoço,
perca teus olhos no meu corpo nu.
Sussurras baixinho,
palavras que conduzem por caminhos de perdição.
O silêncio e a noite irão devorar minha pele,
tua pele na minha irá esconder-se.

Deixa meus carinhos te enfeitiçar,
Implora por minha língua,
deixa que ela te leve pelo chão prateado.
Deixa minha boca e minha sede te bebericar,
deixa meu desespero achar pouso em ti.
Quando perceberes meu corpo molhado,
seca-me, tateando-me com sua língua.
Vira-me do avesso, me prende em tua cela, carrega-me por onde quiseres.

Quando estiveres bem cansado de amar-me,
cansa-te mais, amando-me de novo.
Ama-me até que tomemos enfado um do outro, até que largados e vencidos possamos dormir.
Deixa todo seu cansaço sobre mim, amansa teus músculos pousando no meu corpo, deixa tua boca dormir em meu seio.

Quando o dia chegar há de nos encontrar vencidos, derrotados, devorados por este amor.
O sol irá rir-se e com seu fogo nos acordará.
A manhã irá nos cobrir com seu manto,
nossa nudez não será vergonhosa.
O astro, que nos rouba a noite,
encantado com nosso furor; calor maior que o dele;
rápido, nos devolverá a penumbra.

No meio da noite, por trás da lua, o sol virá para nos espiar.
Na relva, luz maior que a do Sol, enfim ele se curvará.
Desde então o Rei, cobrirá o rosto, todas as vezes que meu corpo pedir o teu.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A culpa é dos coveiros, Sr. Kassab???

Com a pausa no blog Aspirinas & Urubus, fiz um compromisso interno de publicar semanalmente, aqui no "Eu...todos os dias."
Serão textos diversos, geralmente, frutos de minha insônia.
O de hoje é fruto da insonia e da gastrite causada quando eu apenas tento assistir o jornal enquanto janto...
Tem coisas que não 'desce', e ai...Lá vai:

"Agora a culpa é dos 'coveiros', Sr. Kassab?"

Agora a culpa é dos coveiros, Sr. Kassab?

Gente, quem me conhece sabe o quanto me abstenho, de comentar a respeito de política, exatamente por não julgar-me uma pessoa politizada, para entrar em debates.

Mas leiam este texto, cientes de que quem o escreve, sou eu, uma pobre alma revoltada com o cinismo de quem está no governo de sua cidade.
Pensem que Não sou filiada a nenhum dos partidos políticos, e também não sou sindicalizada.
Apenas tenho olhos, ouvidos, e penso.
Sendo assim tenho direito a “livre manifestação do pensamento!”

Sou munícipe e necessito de absolutamente TODOS os serviços públicos prestados por nossa municipalidade.
Inclusive sepultar meus mortos. Ou, eu mesma, caso “caia dura” de raiva, diante do que tenho visto por parte de nossos governantes, necessito, pessoalmente’, do serviço que hora está em greve.

Estamos em meio a GREVE DO SERVIÇO FUNERÁRIO, ou seja, os coveiros cruzaram os braços, depois de exaustivamente tentarem ser ouvidos por uma municipalidade hipócrita.

Não posso e não vou debater o quanto o serviço é absolutamente necessário, e o quanto de horrível deve ser, depender de um serviço cuja existência é básica, e ao ver seu ente amado partir, perceber que quem deveria sepultá-lo, está de greve.
Não posso medir o desespero destas famílias.
Mas posso medir o cinismo de uma municipalidade que se aproveita deste desespero para JOGAR A OPINIÃO PUBLICA CONTRA OS GREVISTA, QUANDO NA VERDADE, O SENHOR PREFEITO, DEVERIA É EXPLICAR, COMO DEIXOU A SITUAÇÃO CHEGAR A ESTE PONTO.Sou obrigada a ver na Rede Globo nosso Exmo. Prefeito, Sr. Gilberto Kassab, chamando a greve de imoral, quando na verdade Imoral é o Município ao permitir que os servidores tivessem de chegar a este ponto pare serem ouvidos!

Perguntem, amigos, quanto ganha um “coveiro”!!!
Perguntem qual é a porcentagem de aumento que eles recebem anualmente!
E agora perguntem, ao nosso representante municipal, digníssimo prefeito, qual é a margem do aumento do salário dele e verifiquem vocês mesmos quem é o Imoral da História desta greve!

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