sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Os cheiros calam.

Os cheiros falam.
Tinha esta exata percepção, que em nada chega a ser novidade,
pois todos devem te-la assim como ela.

Mas nela os cheiros também calam.
Encerram uma infinitude de lembranças, de saudades, de tormentos.

O inverno tem um cheiro de saudade dolorosa.
Quando se mistura com o mar, a brasa das fogueiras, e os ventos de chuva, quase a transportam pra um outro tempo.

Tempo onde todo o tempo parecia eterno.
Onde o tempo não contava.
Onde não se sabia ainda que a saudade tem cheiro.

Dos cheiros não há como fugir.
Não há como evitá-los.

Podia desviar os olhos da imagens, mudar caminhos, fechar velhos álbuns de fotografia,
Mas o cheiro do tempo, do ar, dele não podia se esconder.

Respira-se para viver.
Vive-se portando dos cheiros.
E os cheiros se embrenham pela alma, tiram a calma,
Relembram o adormecido.

Os cheiros calam toda vontade de esquecer.
Insistem em trazer a tona o que não foi e nunca será.
Não foi e nunca será, mas tem cheiro.
E assim, perfumado,
invade a vida de hoje, trazendo o que ontem não tinha forma alguma.
E se o hoje não tem forma, tem odor...

E assim pelo ar, ar que respira pra viver,
Vem a lembrança que faz querer morrer.

E é assim, respirando
Que percebe que os cheiros falam.
E falando lhe calam a alma.
Calam a vida.
Enchem de um silêncio perfumado seus pensamentos.
Seu ser. Sua vida.

Toda ela, calada...pelos cheiros.

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