Eu, como muitos de vocês, cresci dentro de um contexto pseudocrístão onde o
fruto do pecado, a dita maçã, nos é ensinado como sendo o sexo.
Sexo é pecado.Ponto.
Ah, tá, dentro de um casamento sob moldes igualmente pseudocrístão ele é
divino. Fora disto, é pecado. O exercício da sexualidade é pecado também.
Decidir o que fazer com seu corpo, decidir assumir o que te dá prazer é pecado
dos mais cabeludos com passagem garantida para o inferno. Sexo, afinal, é para
procriar, feito fora deste contexto, sem esta finalidade, pecado de novo e mais
uma vez. O prazer é tratado como pecado. Dentro disto, o próprio corpo é o
centro de todo pecado. Expor o corpo? Pecado. Roçar o corpo? Pecado. Atrair com
o corpo? Pecado. E isto segue, num caminho sem volta onde aprendemos a atacar
tudo que é feito com o corpo, mesmo quando ele não é nosso. Nesta necessidade de
fugir do pecado até cometemos a injuria de chamar prazer de amor, só para
purificar o ato libidinoso. Ah, mas era amor, então podia. Mentimos para nós
mesmos. Era sexo. Só sexo. Era prazer e era muito bom. Mas não podia. E assim
passamos a vida negando nosso corpo e nos lambuzando com outras formas de
prazer, comemos em excesso, bebemos em excesso, dormimos em excesso e sobretudo
cuidamos do corpo alheio, em excesso. Nos ofendemos com a liberdade alheia, com
o prazer alheio. É pecado. Temos de alertar o mundo, os pecadores vão tomar
conta de tudo, vamos, militemos, preguemos, somos puros, castos, santos, nossos
corpos não nos enganam, eles são poço de prazer e contaminação. Pecado. E assim
passamos a vida negando que nosso corpo é nosso santuário e também fonte
inesgotável de delicias e prazeres. E que só devemos conta de um único corpo
nesta terra: o nosso próprio. Respeitar os limites deste santuário é missão
delegada apenas ao seu morador. O meu corpo é minha casa terrena, não me
envergonho dele, não tenho medo dele e não vejo culpas nele. Mas sobretudo eu o
conheço bem o suficiente para não me enganar com a mentira do pecado e assim
esconder excessos. Aprendi que o que me difere de um lobo são as escolhas que
faço para obter prazer. O prazer a qualquer custo me levaria de volta para a
floresta, onde eu uivaria para a lua. Nem é uma opção tão ruim assim,
convenhamos, mas eu escolhi ficar de pé, e ser a mulher que sou, sem disfarces,
nua diante da Lua. O pecado, no fim, nem era uma maça, sabemos. Não era sexo
também. O pecado era o ego. Ego que nos afasta da presença do Amor Maior. Este
sim, amor de verdade. Ainda assim, milhares de anos depois de contada uma das
mais conhecidas histórias do livro sagrado dos Cristãos, ainda assim, muitos
preferem continuar acreditando que sexo é pecado e falta de Amor Não. Lamento. E
danço, nua, sob a Lua, em pé, não como um lobo que devora, mas como a mulher que
decidi ser, amando.