sábado, 1 de agosto de 2020

A maça, o lobo e Eu.

Eu, como muitos de vocês, cresci dentro de um contexto pseudocrístão onde o fruto do pecado, a dita maçã, nos é ensinado como sendo o sexo. Sexo é pecado.Ponto. Ah, tá, dentro de um casamento sob moldes igualmente pseudocrístão ele é divino. Fora disto, é pecado. O exercício da sexualidade é pecado também. Decidir o que fazer com seu corpo, decidir assumir o que te dá prazer é pecado dos mais cabeludos com passagem garantida para o inferno. Sexo, afinal, é para procriar, feito fora deste contexto, sem esta finalidade, pecado de novo e mais uma vez. O prazer é tratado como pecado. Dentro disto, o próprio corpo é o centro de todo pecado. Expor o corpo? Pecado. Roçar o corpo? Pecado. Atrair com o corpo? Pecado. E isto segue, num caminho sem volta onde aprendemos a atacar tudo que é feito com o corpo, mesmo quando ele não é nosso. Nesta necessidade de fugir do pecado até cometemos a injuria de chamar prazer de amor, só para purificar o ato libidinoso. Ah, mas era amor, então podia. Mentimos para nós mesmos. Era sexo. Só sexo. Era prazer e era muito bom. Mas não podia. E assim passamos a vida negando nosso corpo e nos lambuzando com outras formas de prazer, comemos em excesso, bebemos em excesso, dormimos em excesso e sobretudo cuidamos do corpo alheio, em excesso. Nos ofendemos com a liberdade alheia, com o prazer alheio. É pecado. Temos de alertar o mundo, os pecadores vão tomar conta de tudo, vamos, militemos, preguemos, somos puros, castos, santos, nossos corpos não nos enganam, eles são poço de prazer e contaminação. Pecado. E assim passamos a vida negando que nosso corpo é nosso santuário e também fonte inesgotável de delicias e prazeres. E que só devemos conta de um único corpo nesta terra: o nosso próprio. Respeitar os limites deste santuário é missão delegada apenas ao seu morador. O meu corpo é minha casa terrena, não me envergonho dele, não tenho medo dele e não vejo culpas nele. Mas sobretudo eu o conheço bem o suficiente para não me enganar com a mentira do pecado e assim esconder excessos. Aprendi que o que me difere de um lobo são as escolhas que faço para obter prazer. O prazer a qualquer custo me levaria de volta para a floresta, onde eu uivaria para a lua. Nem é uma opção tão ruim assim, convenhamos, mas eu escolhi ficar de pé, e ser a mulher que sou, sem disfarces, nua diante da Lua. O pecado, no fim, nem era uma maça, sabemos. Não era sexo também. O pecado era o ego. Ego que nos afasta da presença do Amor Maior. Este sim, amor de verdade. Ainda assim, milhares de anos depois de contada uma das mais conhecidas histórias do livro sagrado dos Cristãos, ainda assim, muitos preferem continuar acreditando que sexo é pecado e falta de Amor Não. Lamento. E danço, nua, sob a Lua, em pé, não como um lobo que devora, mas como a mulher que decidi ser, amando.

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