quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Saúde.

Termino o ano com a certeza de que quase todas as coisas são incertas mesmo, e que não há nada que se possa fazer sobre isto.
Já descobri que quando a doença chega, não há jeito de sair pela outra porta e fingir que não notou sua chegada.
E se a dor do outro te fere, fica quieto, que não há outro jeito.
Amor também é isto. É sentir a dor do outro e tentar tirar a dor dele, fingindo que não é nada.
A dor de quem ama, vai doer em sua carne e não haverá nada que será feito sobre isto. A dor do outro não é sua, e muito embora te doa, você não pode fraquejar... afinal, não está doente.
Hoje sei que ter saúde é realmente o mais valioso bem que alguém pode possuir.
Seja este então meu pedido de Natal:
Saúde, saúde, saúde...para mim e para os que amo. Saúde até para meus desafetos, saúde, para todos

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Vida e Morte de cão.


Eu tinha uma cachorra que não era bem minha.
Alias, era minha, mas eu só descobri no fim.
Ela morava lá em casa, mas nunca foi de ninguém.
Coisa triste a vida dela. Sempre achei.
Mas por fim...acho que ela foi feliz.

Algumas semanas depois que me casei, meu marido, agora ex, apareceu com ela.
Eu, idéia fixa de não ter mais animais, fiquei ‘fula’.
- Pelo amor de Deus, para ter um animalzinho é necessário cuidar, dar vacinas, banho, ração adequada para a raça, passeios, carinho, atenção... Não é só jogar o bicho pelo quintal com um punhado de água e pão duro!
De contrapartida ele alegava que o bicho, que se criava na rua, havia sido atropelado por seu pai, e não duraria muito.
Falou que ela ‘estrebuchava’, gemia e babava e sendo assim, certamente morreria naquela noite.
- Criatura, e você a trouxe para morrer aqui? O certo é levar ao veterinário!

Corri para dar uma olhada e lá estava ela:
Em pé, no meio da garagem.
Não parecia a beira da morte.
Alias ninguém diria que um carro, com meu sogro que não era nada magro, pudesse ter atropelado aquele bicho.
Devia ter 8 meses, talvez.
Sem raça definida. ‘vira-latas’, dons bons.
Arisca, não deixava que a tocássemos.
Eu levantava a mão para acariciá-la e ela já corria para se esconder.
Não era possível lhe fazer um afago.
Eu a chamei pelo mesmo nome que chamei todas as cachorras que tive, em minha infância: “Póquinha”.
Sem nome seu, sem afago e sem jeito, ela ficou.
Tinha ração, água limpa e cama.

Ficou e fez parte da família.
Sabe aquela prima chata? Era ela.
Sabe a aquela tia birrenta? Era ela.
Sabe aquele parente interesseiro? Era ela.
De nós só queria a comida, a água, a dormida.
Mas ficou, e ficou por mais de 13 anos.

Quando me divorciei os cachorros ficaram comigo.
Ela e outra que ele trouxe depois.
Foi ai que descobri que a Póquinha nos amava.
Ela abanava o rabo toda vez que meu ex-marido vinha no portão.
Sinto que ela sempre achou que ele a levaria com ela.
Nestas horas ela me olhava com pena.
Queria tê-lo perto, mas não queria ir.
Mas, ela teve de ficar.
E ficou.
Novamente.
Por quase 04 anos.
Já velha e doente, pior ficou.
O câncer começou a devorá-la de dentro para fora.
Lenta e silenciosamente.
Quando demos conta, já era tarde.

O veredicto dos demais moradores do quintal era um só:
- “tem que sacrificar”.
...eu fui contra.
- “Mas gente, ela abana o rabo, se alimenta, bebe água e dorme.
Nem um gemido dá. Não está bonita é verdade...mas, mas...”

O veterinário desenganou.
Era questão sem solução.
Mas determinar a morte dela, pelo bem dos olhos e narizes alheios, me repugnou mais que o cheiro dela.
A defendi da morte certa, por longos meses e enquanto ela abanava o rabo.

Só ai eu soube que ela era minha.
Ninguém conseguia tomar uma única decisão, sem que eu desse a palavra final.
O veterinário foi e voltou mais de uma vez, mas ninguém conseguia tirar de mim o peso de decidir.
Dizer sim para a morte de quem amamos é coisa bruta.
Soco, no estômago.

No último feriado deste ano o veterinário veio pela última vez.
Pela primeira vez em sua vida de cão, ela aceitou meus carinhos.
- “Vai com Deus minha querida. A gente se encontra um dia.Acho.
Eu te amei.”

Virei às costas e deixei minha família lá, olhando seus últimos minutos.
Eu não pude olhar.

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