sexta-feira, 17 de outubro de 2008

...alma sem lua.

Noite sem lua,
Daquelas cujo breu já é o suficiente pra despertar temores.

Ela sai pra colocar ração para os cães.
A porta da sala fica na lateral da área, que é no segundo andar da casa.
Esta área tem continuidade em frente as grandes vidraças da sala.
E é ali que ela está quando uma vizinha grita:

“-Cuidado, tem um sujeito ai no seu quintal.”

O dito sujeito havia invadido uma casa, cerca de três abaixo da sua, pego de surpresa, subiu no telhado, e foi pulando de casa em casa até se deparar com o sobrado.

Ela,
Estática, sem coragem de olhar para trás...
Só queria alimentar seus cães e dormir.
Sonhar, talvez, com o amor que viria e mudaria toda sua vida.

Ele,
arfando, alucinado de torpor, embriagues, fome e medo se misturam.
Ele só queria conseguir alguma coisa pra vender e fazer uns trocados.
Precisava de mais uma dose para atravessar a noite.

E agora estavam ali.
Frente a frente.

Ele tenta se aproximar, tocá-la, mostrar que não lhe fará mal,
Ela vê em seus olhos o olhar de um animal.
Não vê o medo. Vê o brilho e identifica uma fera selvagem.


A vizinha que vê tudo da rua começa a gritar;
Os vizinhos acordam.
Sua irmã dentro de casa começa a gritar também.
Ela não tem como alcançar a porta da sala. Ele está no caminho. Olhos vermelhos. Olhos nos quais,finalmente ela identifica a fome. Fome e vício, nitidos no brilho do olhar. E naquele momento aquela fome, podia ser fome dela.

Só vê uma solução.
Começa a esmurrar os vidros da sala, até que ele arrebenta debaixo do seu punho.
Sente o caco de vidro se enterrar na carne do seu braço,
o sangue jorra.
Enfia a mão pelo buraco, abre o vidro, e joga seu corpo pra dentro.
Ainda se sente as mãos dele tentando pegar sua perna...

Já lá dentro ouve os vizinhos se aproximar.
Um deles tem uma enxada nas mãos.
Vários se juntam e caçam o homem.
...ela corre pro quintal a tempo de vê-lo sentado nas escadas protegendo o rosto com as mãos.

Naquele momento o tempo parou.

Seu peito se encheu de uma profunda dormencia e ela não viu mais uma fera.
Viu um homem, sozinho e com medo.Mais medo do que ela...

Medo da vida. Medo de seus vícios que o fizeram escória do mundo.
Medo do animal que carrega dentro de si.

Ela pede que o deixem ir.

E ele some no meio da noite...
Camisa rasgada, ferido...
Antes de partir lhe lança um ultimo olhar.
Ela nunca esqueceu aquele olhar de vício.
Vício e medo.
Escória do mundo. Bicho.
Bicho sozinho.

Naquela noite ela dormiu por cima do braço ferido.
E a alma, estava de outra cor.
Ficou com a cor da noite.
Alma sem lua.

Um comentário:

Agnaldo Silva disse...

Oi Eliana seus poemas são lindos,pode ser que você não se lembre de mim mais eu estudei com você no Humberto Dantas em 1994 e 1995 se você quiser entrar em contato meu e-mail é ngdl.slv@gmail.com ou nigaldo8@yahoo.com.br Fica com Deus.

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