terça-feira, 3 de maio de 2011

Estou cansada.

(Texto publicado originalmente no sitio Aspirinas & Urubus no dia 27/04/11.

http://aspirinasurubus.blogspot.com/search/label/Klas)



Cansada do ar sempre pesado, cansada dos pés sujos de barro.


Cansada de cambalear nesta rua suja, com roupas igualmente sujas e tentar manter intacta uma mente limpa.


Estou cansada de esticar estes panos rotos, sobre este colchão velho, jogado neste chão esburacado.


Estou cansada da água cor de barro, cansada da lata para o banho e do esgoto fedorento.
Estou cansada dos restos de marmitas e dos lanches dados com desprezo.


Estou cansada dos cadernos velhos, do lápis sem ponta, da caneta ressecada.


Cansa-me a alma nova, esta vida velha de dias duros e noites famintas. Cansa-me o esmolar, cansa-me o olhar de pena.


Cansei dos tapas, dos chutes, do escárnio.


Cansei de sentir saudades de minha mãe e de ouvi-la sendo chamada de puta.
Desisti de todos os dias tentar me convencer que não há do que ter canseira em uma vida sem ocupação.


Cansei de tentar motivação nos livros velhos que ganhei nem lembro mais de quem.
Cansei de acreditar que minha letra bonita irá um dia me fazer alguém. Cansei da vida, se é que já tive uma.


Desculpem.
Desculpem desistir assim, sem tentar.


(Este bilhete foi encontrado ao lado do corpo de uma menor, vítima de hipotermia, nas ruas de São Paulo) - (Ficção, mas podia ser verdade.)

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