sexta-feira, 6 de maio de 2011

No claro e no escuro.

Ela, vinte anos.
Ele trinta.
Linda, das 04 irmãs ela seria a única a não perecer nas garras da depressão e posterior esquizofrenia.
Duas irmãs ficaram solteiras, a mais velha e a mais nova.
Ela e a do meio se casaram.
As duas com Silvios.
Os cunhados tinham o mesmo nome, mas os casamentos tomaram rumos distintos.
O dela foi pra vida toda.

Primeiro o pedido:
- Pense bem, sou velho, não vou querer filhos.
Ela resolveu consultar a mãe, que de pronto rebateu:
- Velho? Nem tanto, aos trinta que o homem já sabe o que quer.
Sendo assim, com o aval da mãe se casaram em seis meses.
Primeiros tempos moraram juntos, as duas irmãs e seus dois Silvios.

Não tiveram filhos, por opção, é o que diziam.
Sem filhos tornaram se filhos e pais um do outro.
Ela brava, ele calmo.
Os dois apaixonados.

Ele, com seus 10 anos a mais que ela, sempre foi seu alicerce.
Esteve ao lado dela quando as duas irmãs adoeceram, acompanhava-a nas visitas ao hospital e a casa distante, na periferia, entre uma internação e outra.
Mais tarde quando a sogra, mãe dela, faleceu foi ele quem esteve junto cuidando das duas irmãs que ficaram solteiras.
Anos depois, com a morte da Irmã mais velha dela, ele, sempre paciente, trouxe a cunhada caçula para viver com eles, e cuidaram dela como de uma filha.

E assim viviam, os três.
Ele, sempre com uma piada para sacar do bolso, sempre doce, sempre atento e gentil.
Ela, mão forte, conduzia a casa com braço de ferro, mas com ele era doce.
“Fofo”, era assim que ela o chamava.

Toda noite a pergunta:
-Você me ama.
- Claro.
E dormiam abraçados.
Por cinqüenta anos foi assim.

Naquela noite, quando a luz apagou, a mesma pergunta:
- Você me ama.
A nova resposta, que ela pensou ser piada:
- No Claro e no Escuro.

De madrugada levantou para ir no banheiro, não voltou.
Ela foi encontrá-lo escorado na parede.
Abraçou-o, beijou, tentou revive-lo.
- Fofo, fofo! Não me deixe. Não me deixe.

Ele já estava morto em seus braços.
50 anos.
Ela, linda. Ele em seus braços.
- Te amo, no claro e no escuro, ela disse, antes de fechar os olhos dele, pela última vez.

(Ao meu tio Silvio Pontes e minha tia Mary Klas.)



4 comentários:

Regaine disse...

Querida,
minhas lágrimas banharam meu teclado... dor de saber que não é fruto da imaginação, mas da dura realidade que representa a perda.
Regiane

Profª. Rokatia Kleania disse...

Querida Klas, que texto mais lindo. Romântica como sempre fui, sou e serei, não contive as lágrimas. Chorei copiosamente. Em mim fica o desejo de um dia encontrar um amor assim, para sempre, no claro e no escuro.

Texto lindo, como todos que você escreve. Texto lindo, inundado em um poético romantismo. Texto lindo, principalmente, porque narra uma história real.

Parabéns, amiga.

Profª. Rokatia Kleania disse...

"Dois amantes felizes não têm fim nem morte, nascem e morrem tanta vez enquanto vivem, são eternos como é a natureza."

[Pablo Neruda]

Eliana Klas disse...

Professora Aspirina,

Salve os Deuses da Literatura,
ou o Papai do Ceú se preferir, que me trouxe você.

Acompanho seu trabalho, aidna que de longe, e é um prazer e uma honra ter um comentário seu (e dois??) postado no meu blog.

Beijos aspirinicos.

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