quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Positivo.

Lembro que a principio parecia inadmissível.
Sim, eu já sabia como eram feitas as criancinhas,
Meu pai, incansável, me explicara tudo e todas as formas de não tê-las sem prever,
Mas, ainda assim, eu tentava me convencer de que
todo aquele mal estar devia mesmo ser alguma doença incurável.
Não era um enjôo normal,
era daqueles de te jogar no chão, agarrada ao vaso sanitário sem o menor pudor, e ali prostrada colocar até a alma pra fora, pela boca, e com muito barulho. Pior do que a pior das ressacas.

Acordar cedo? Uma tortura sem precedentes... Aliás, acordar, fosse cedo ou tarde, era uma tortura.
Arrastava-me em direção ao trabalho, com correntes nos pés e carregando um tronco nas costas...
Sono constante.
Enjôo? Da comida, dos cheiros, de todos.
Chegava na estação República, do metrô, subia um lance de escada e agarrava uma lixeira.
Subia outro lance, outra lixeira.
Horrível. Deprimente. Um verdadeiro vexame.

Vencida pela evidência só me restava fazer o fatídico exame.
Acompanhada por uma amiga, lá vou eu.
Coleta feita, resultado só sairia no fim da tarde, e ainda eram 09h00.

A amiga, me leva pra sua casa e solidária ao meu súbito silêncio, me deixa só.
Só pra pensar na vida. Na minha e na que viria, fosse o resultado o óbvio.

Já nesta época a responsabilidade financeira com a casa era minha.
Desde muito cedo havia sido assim.
Homem da casa. Contas na ponta do lápis
Isto me dava uma enorme autonomia, muito embora sentisse o peso nos ombros.
Ombros de menina que buscava ser mulher.
Lembro que só esta certeza me impulsionava: A certeza de que não haveria ninguém apto a me cobrar.

Não havia outra possibilidade. Era enfrentar ou enfrentar.
E eu enfrentaria. De nariz em pé.

Fim de tarde
Resultado pronto,
Escrito a mão, me permitia não entender.
Olhava, olhava, mas não entendia o que estava escrito ali.
A amiga traduz o que meus olhos não queriam ver:

Positivo.
O resultado que iria mudar minha vida.
O amor que iria mudar minha vida.
Amor visceral como costumo dizer.
Dolorido. Entranhado.

Foi assim que ela chegou em minha vida.
Sem esperar, mas muito bem vinda.
Sem esperar, mas perfeita pra fazer da menina, mulher.
Meio na marra, meio dolorido,mas bom.

Hoje sei que se não fosse ela eu não seria o que sou.
E gosto do que sou.
Positivo, o resultado. De Fato.

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