quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Vertigem

Vertigem.
É a primeira sensação.
Frio.
Não um frio comum,
Mas um frio daqueles que começa na espinha e termina na alma.

E o silêncio repleto de significado, paira no ar com peso de chumbo.
Quase consegue tocar o silêncio.
Não há mais riso, não tem mais música,
Só o silêncio.
Estático passa os olhos pelos mesmos lugares,
Outrora cheios de vida, agora perdidos debaixo de uma fina poeira.

De novo a vertigem.
O chão?
Cadê o chão?
Ele estava aqui ainda há pouco, agora cadê?
Tenta se sentar, pra recobrar a sensação de apoio.
Mas não há apoio.
As paredes também sumiram, o teto, o quintal...
Toda a vida evaporou.

Antes o ar era respirável, agora insuportável.
Seco. Quente.
Contraditório.
Respira um ar quente, que entra e congela tudo por dentro.
Devora-lhe por dentro o frio, e por fora o calor.

O coração faz eco, no silêncio da noite.
E o chão?
Não o encontra mais, mas sabe que ele está ali
Debaixo dos seus pés....mas onde estão os seus pés???

Sempre achou que o vazio não tinha forma.
Agora percebe que tem.
E tem cheiro também.
O vazio tem gosto,
O vazio tem cor.
O vazio tem consistência e aderência.
Adere na pele, impregna-se em cada canto do corpo.
O vazio se esconde debaixo das unhas,
no meio dos cabelos.
O vazio ocupa tudo, no meio das prateleiras,
Entre os bibelôs, sobre os enfeites de porcelana...
O vazio se mostra, grande, suntuoso, ofuscante.

Antes ela estava lá.
Falante.
Pulsante
Amante.

Agora era vazio.
A Tal presença da ausência de quem falara o poeta.

Vertigem.
De novo.
De novo o silêncio sepulcral.

Na espinha o frio.
Na boca o amargo.
Gosto amargo do dia seguinte.
Dia seguinte de um futuro perdido.

Ela se fora...
Sem meios, sem motivos, sem porquês.
Ela se fora.
Sem nem mesmo olhar para trás.
Na verdade ele sabia os porquês.
Todos eles.
O problema todo fora os porquês.

E agora, só vertigem.
Sem porquê algum.
Ela se fora.
E não voltaria mais.
Se bem a conhecia, ela não mais voltaria.
Não levara nada, e mesmo assim ele sabia que ela se fora.

Aquele vazio contava pra ele que ela se fora.
Não o vazio dos armários.
Nem o vazio das panelas.
Nem mesmo o vazio da cama.
Mas sim
O vazio no ar.
Ocupando tudo.
Dando forma a tudo.

Vertigem.
Era esta a primeira sensação do fim.
Ele sabia.

Nenhum comentário:

Postagens populares