sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

...perdendo o encanto.

Nesta época do ano era desnecessário dizer que lembrava dela ainda mais do que durante todo o ano.
E Lembrar dela era necessariamente se sentir o último dos homens.

Ela adorava as festas de fim de ano.
As lojas enfeitadas, o burburinho no ar, os presentes, as festas.
Pouco lhe importava se tudo era comércio, se o Natal tinha algum significado espiritual ou não.
A ela importava a beleza, o estético, o efêmero.

Ele andava pelas ruas com a alma consumida.
O cheiro dela estava no cheiro do panetone, no cheiro dos assados, das frutas cítricas.
O som do riso dela era lembrado no barulho das castanhas sendo quebradas.

...e esta época o fazia lembrar do presente que lhe comprara, na noite que ela se fora.
Naquela noite ele lhe comprara enfim o anel que ela tanto pedira.
Juntara dinheiro os últimos meses, mais parte do 13º , e finalmente na caixinha de veludo vermelho estava o pequeno tesouro.
Ele iria pedir-lhe em casamento naquela noite. Noite de Natal.

Chegou na festa da família e notou de imediato que todos os olhares o perseguiam.
Beijou a mãe, as tias, abraçou tios e sobrinhos, cumprimentou amigos.
Mas cadê ela???
Todos os olhos da festa fitos nele.
Até que a irmã, querida, confidente, amiga, que jamais gostara dela vendo seus vícios de menina matérialista e fria, lhe contou...
"Ela se foi...Saiu, no meio de todos, malas feitas, sorriso na boca.
Deixou só este bilhete pra ti."


...Já fazia tempo que ele percebia algo diferente.
Nunca tinha tempo pra ele.
Sempre saindo, sempre feliz demais longe dele.
Depois que começou a andar com a Lurdinha e o Cássio pra cima e pra baixo, algo mudara.
Ia a absolutamente todos os lugares com os dois.
As vezes iam os quatro, mas quando ele estava trabalhando ela não se importava de sair com o outro casal.
E ria riso solto com os dois.
Na cama o evitava o mais que podia, e quando a tinha,
Sempre de olhos fechados, rosto virado pro outro lado.
Gozava rápido. Ele acha que ela fingia.

Conversar com ele só pra pedir um cheque assinado, um vestido, um perfume...e pra lembrar da mensalidade do curso...e por ultimo o tal anel.
Ele achou que ela queria era ser pedida em casamento e arquitetou tudo com a família.
Já estavam morando juntos a mais de dois anos, e talvez a distância toda dela fosse vontade de casar, ter o nome dele, planejar os filhos estas coisas todas que a mulher quer depois dos 30 e que depois dos 35 já virou fixação.

Mas se enganara.
Ela só queria lhe extorquir mesmo.
No bilhete, categórica:

“Querido, agora já terminei meu curso, posso me virar sozinha.
Vou embora viver meu amor.
A Lurdinha deixa, ainda hoje, o Cássio, vamos viver juntas...se é que me entende.”

Não, ele não entendia.

E o Natal então mudou de cor pra ele.

Um comentário:

Fernando Amaral disse...

Ele podia ir morar com o Cássio...

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