terça-feira, 5 de maio de 2009

Mentiram para nós. Tempo? Não existe.

Em um passeio por um recanto; nova moradia de uma querida; encontrei um pensamento que veio de encontro ao que sinto ferozmente ultimamente,
Tomo emprestado a angustia dela, pra descrever a minha:

"pensando em onde encontrar tempo, pra escrever um texto sobre minha cidade natal, convite feito por um amiga, q não posso desperdiçar..."

Não entendi muito como a coisa funciona por lá, mas voltarei com mais tempo dia destes.

Mas é impossível não comentar o último pensamento...

Tempo? verdade, companheira...cadê o tempo?

Tempo é uma coisa medonha que inventaram pra enlouquecer quem ama escrever, mora na Cidade Grande e ainda não ganhou na mega-sena ou se aposentou com uma aposentadoria bem polpuda.

Desisti do tempo.
Ou ele desistiu de mim.


Eu morro se não escrevo.
Morro mesmo.
Perco a fome, a sede,
perco o viso.
Parece que algo entala,
A dor é maior,
O abandono é pior,
os bichos todos,
aqueles do passado que só servem pra fazer sentir-se só e com medo,
os tais bichos do “eu interior”, (geralmente criados em uma infância mal estruturada, ou nas tantas outras mazelas da vida), voltam no meio da noite, no escuro do quarto ou no vazio da rua...isso se não escrevo.

Sem escrever minha rua parece que fica mais comprida no meio da noite quando sinto que minha bolsa pesa mais que às 6 da manhã.

Penso que todos nós carregamos no peito uma dor:
um desafeto,
um afeto perdido, um elo rompido,
uma dor qualquer.
lidar com isto é opção de cada um, e a ninguém pode ser delegado,
mas quando não escrevo parece que esta tal coisa escondida fica maior, e quer me devorar.
Escrever muda tudo. Até minha maneira de ver minha própria história.

Quando amo só amo de verdade se puder escrever este amor.
Quando desejo, escrevo, escrever torna real, o que não pode ser.
Ou pode e isto descubro enquanto escrevo.

Quando algo é indigesto, escrevo sobre, e a coisa desce, redonda, mesmo sem ser cerveja.

Quando tudo em mim some, eu viajo e conto contos que nem sei de onde vem.
Crio pessoas que nascem de uma ansiedade que me devora.
Crio pessoas que vivem coisas que jamais vivi,
Crio dores de dores que não são minhas,
Crio amores que jamais terei,
Busco coisas que jamais busquei,
quero coisas que nem mesmo quero.


Se não escrevo, morro.


Mas, ainda assim,
Ainda que totalmente apaixonada pelo ato de escrever, descubro sempre, que não há tempo.
Não há tempo.
Carrego dezenas de textos incompletos, cuja inspiração se perdeu no tic-tac de um relógio que me ameaça.

Onde encontrar tempo, quando o tempo escorre entre os dedos???

Já pensei em não dormir...
eis ai um tempinho que seria bem útil...
Mas dormir é um dos meus prazeres. Os braços de Morfeu sempre me encantaram,
E meu humor muda horrivelmente quando não durmo.

Comer...tai um tempo que eu considero desperdiçado.
Como porque preciso.
Como porque sou motivada por uma dor aguda no estômago ou por uma fraqueza que me lembra que esqueci o almoço...ou da janta, ou do café...ou mesmo de tudo no mesmo dia.
Esta coisa de ter de comer todo dia é coisa que oprime.
Devíamos comer só pro prazer, por vontade.
E não por esta necessidade biológica que nos consome as gorduras e calorias.
Eu trocaria a fome que sinto, por um tempo com meu teclado, só escrevendo.
Mas também não dá certo.
Somos frágeis como vermes.
Temos de nos alimentar.




...e assim, entre um texto e outro,
Entre uma vontade e outra,
Entre o sono e a fome,
Vou deixando vários textos se perderem na memória,
Várias histórias e Estórias que ficam esperando que eu possa enfim,
Trazê-las a vida.

Como uma mãe que se recusa a deixar o filho nascer, seguro no ventre este parto,
Na esperança que meu filhote não morra, sufocado no meio de minhas entranhas...
...

Hoje só posso desejar que minha amiga, aquela do pensamento acima, tenha encontrado tempo pra responder ao irrecusável convite da escrita...
Que a pressão imposta por tal convite não lhe tire a inspiração,
Desejo antes que tal convite a motive a separar dos seus dias sempre curtos, um tempo inexistente,
E assim como uma bruxa ela consiga criar o tempo que não existe,
Que com o talento peculiar que é concedido aos lunáticos amantes da escrita, ela possa também alimentar a esperança de ter tempo, mesmo quando tudo ao redor contar pra ela que não há um único segundo que já não esteja comprometido...

...porque tempo é uma mentira que inventaram pra nos fazer sofrer.
Ele é fictício e irreal como muito de nossos contos.
Tempo não existe.
Existe falta dele, e só.

Um comentário:

Renata disse...

Eliana,
Que bom que mesmo com a falta de tempo, vc conseguiu escrever um texto tão bonito como este. E que legal que meu "mini blog", se é que posso chamar aquilo disso, fez vc escrever sobre o tempo.
Aliás, se ele pudesse ser comprado, eu estaria na primeira fila!
beijo.

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