quinta-feira, 7 de maio de 2009

...sua verdade.

Chove.
O som das gotas no guarda-chuva, o cheiro, e mesmo seus sapatos molhados aliviam os seus humores.
A chuva tem o Don de fazê-la sentir-se melhor.
Tem dias que o sol parece uma afronta ao seu ânimo.
Aquele céu tão azul parece zombar dela.
A chuva não zomba. A chuva lhe faz companhia.

Abre a porta.
Silêncio.
Delicioso silêncio.
Chuva forte. Solidão.
Irrita-se, pois alguém lhe disse logo cedo que ela gosta da solidão só por nunca ter estado realmente só.
Mentira.
Ela gosta da solidão porque é ela a sua verdade.

Não as pessoas ao seu redor,
não o quintal sempre cheio de sons.
Não o trem cheio, a vida cheia, as paixões todas.
Não.
Sua verdade é o estar só.

Nunca existiu alguém batendo na porta quando o relógio não desperta,
Nem o cheiro de café antes de sua mão posta sobre o bule.
Nunca ouve alguém em algum lugar pra fazer algo.
Sempre palavras. Palavras incentivadoras, palavras animadoras,
Palavras ...mas nunca um único gesto palpável.
Nunca a mão estendida com o remédio que alivia a dor.
O prato quente com a sopa na noite fria.
Nunca o braço forte no fim do dia, quando a vida pesa ainda mais.

Nunca ouve alguém disposto a perder uma só hora de sono por ela.
Soube então, desde sempre, que a solidão era sua verdade.


Não há Fundamentos em sua vida. Nunca ouve.
Solidão sim.
Anda pela sala, sentindo o prazer de sua companhia.
Procura no dicionário o significado da palavra Apoio.
Fundamento. Estrutura.

Para ela apoio era o outro nome da Solidão.
A solidão sempre lhe apoiara, sempre fora sua base, seu fundamento, sua estrutura.


A Solidão combina melhor com sua roupa, com seu vazio, com o seu sono.
A chuva combinava melhor com seus humores.
Chove.
...E ela gosta.

Nenhum comentário:

Postagens populares