terça-feira, 17 de julho de 2012

Recuso-me

O barulho das paredes cai sobre mim.
Não, as paredes não caem, o barulho cai e me enterra embaixo dos seus pedregulhos.
Pedregulhos de vozes que gritam, de carros, de venenos destilados.
São pedras enormes de um barulho repugnante.
O barulho causa náuseas.

As paredes estão frias, o chão está frio.
O chão, embaixo dos meus pés sem meias, está tão frio que eu penso ser de gelo.
De gelo também é o ar e as pontas dos meus dedos.
Lá fora posso ver as poucas árvores que restaram no terreno em frente de casa...construções mal feitas, gente que passa sem olhar para os lados.

Fecho as janelas, todas, fecho também as portas.
Fecho a casa toda para reter o calor e deter o barulho.
Apago as luzes para que ninguém saiba de mim.

Entrego-me ao silêncio, ao calor. Com a casa toda fechada consigo reter calor.
Acendo a luz, novamente. Só uma.
Conto todas as contas do meu colar, todas as conchas do meu tesouro.
Leio todas as revistas velhas, relidas muitas vezes.
Releio o livro que gosto.
Evito escrever. Escrever traria a tona todos os meus fantasmas.
Aos poucos o frio dos meus dedos vai desaparecendo.
O chão derrete seu gelo embaixo dos meus pés.
O silêncio, maravilhoso, aquece minha pele, desce por minha coluna, retira toda dor.

Só não posso abrir as janelas.
As portas, elas precisam estar sempre fechadas.
E as luzes, apagadas.
Deixo só uma lâmpada acessa.
Só para te enxergar ao meu lado.
Você e minha única certeza, minha única verdade.
Lá fora, o mundo de gelo e barulho devora minha existência.
As luzes sempre apagadas me escondem de mim. Cá dentro eu me enterro, me nego, me recuso.

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