terça-feira, 31 de julho de 2012

Prudência...e medo.



Prudência e chá de camomila não fazem mal a ninguém.
Sei disto.
Porém prudência em nossa sociedade é sinônimo de medo.
Não basta ser prudente. É necessário tornamo-nos prisioneiros do medo.
Ser prudente é ter grades nas janelas e não andar a noite.
Somos prisioneiros ou cumprimos regime semi-aberto.

Somos assaltados e nos sentimos culpados por isto.
Mas a culpa é sempre nossa?
Somos culpados por sermos bandidos e culpados por não sermos.
Ser bandido não é mais sinônimo de infância pobre.
Não é o dinheiro que temos que compra o caráter dos nossos filhos.
E sempre somos culpados.

Se reagirmos somos culpados pelo tiro que nos mata, ou pela morte de alguém que não teve escolha ou não soube escolher.

Se não reagimos somos culpados por termos sido roubados.
Somos culpados por perder os bens que compramos a duras penas.
Somos culpados por vermos roubado o celular que nem pagamos.
Somos culpados por nos expor ao perigo, afinal, é imprudente querer gozar do nosso direito de ir e vir.

Somos fruto de uma sociedade corrupta e que sendo corrupta nos corrompe.

São 04h35 da manhã.
Acabo de deixar minha filha em seu quarto para dormir.
Assustada, tremendo, com medo.
Tive de, praticamente, colocá-la em meus braços e cantar para ela como eu fazia quando ela era só um bebê.
Não sei cantar, não consigo colocar a letra na música certa...então inventava minhas próprias canções e a embalava para dormir.
Fiz isto até ela se acalmar.

Ela foi assaltada, ao que me lembro, 04 vezes. 02 delas no ultimo trimestre.
Duas vezes no meio de uma singela tarde de sol.
Roubada. Intimidada. Amedrontada. Roubada a luz do dia, nas ruas do bairro onde mora.
A penúltima vez, ás 19h, horário de verão. A luz clara ainda,em uma rua movimentada dos arredores de uma das maiores estações da CPTM de São Paulo, com um fluxo de centenas de milhares de pessoas por dia.
Foi jogada no chão na tentativa de tirar o tênis.
Sua sorte foram os “guardinhas” da estação que correram e apitaram até que os bandidos fugiram.

A última vez foi ontem.
1h30 da madrugada.
Ah, agora sim. Agora foi culpa dela!
Pois é.
Mas não.
Em uma sociedade ideal uma jovem, acompanhada do seu namorado de 19 anos, pode pegar a última sessão do cinema, em um shopping movimentado, e ao final da sessão pegar um taxi para ir para casa.
Na zona leste de São Paulo não.
Ontem deu errado.
Saiu da plataforma principal do metrô Itaquera, rumo ao ponto de táxi que beira a Radial Leste.
Ela e o namorado foram encurralados, amedrontados e roubados.
Ela em pânico temeu pela vida dele. E em pânico ficou.
Desta vez podiam roubar mais que um bem.
Podiam roubar-lhe a vida, a vida de quem ela gosta.
E a culpa?
A culpa é deles, claro.
Afinal quem manda querer ir a última sessão do cinema.?

Em uma sociedade ideal as pessoas não podem ser assaltadas a luz do dia.
Em uma sociedade ideal as pessoas não podem ser jogadas no chão em ruas movimentas.
Em uma sociedade ideal as pessoas estão seguras ao ir a um shopping, ver a última sessão de um cinema e sentir-se-ão protegidas ao caminhar, até um ponto de táxi. (sobre a passarela principal de uma das maiores estações de metrô da zona leste, onde será o primeiro jogo da Copa do Mundo em 2014).
Mas, não moramos em uma sociedade ideal e quem não se aprisiona é culpado por ir e vir.
Em qualquer horário.

(Filha, não permita que o medo de faça prisioneira. Você não tem culpa por acreditar que vive em uma sociedade livre. Te amo.)

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