terça-feira, 13 de novembro de 2018

Gente como eu


Eu acredito piamente em Deus, não consigo mais acreditar nos homens...
Zé Geraldo


A essência da minha escrita é o ser humano, a vida e a liberdade

Eu ainda acredito em gente. Gosto de gente. Gente de todos os tipos, gente para todos os gostos. Até os do contra, eu gosto.

Gosto de gente que ri; me identifico com quem segura o choro, mas se chorar, gosto também. Gosto de gente que geme na hora da luta e sabe gemer na hora do amor. É necessária prática para gemer de amor.

Amo gente que quer sorrir, mas não tem dente. Ri assim mesmo e eu rio junto, de aparelho. (Gosto de ver que o vazio de dente não lhe fez vazio de vida).

Gosto de gente que abraça e gosto de gente que foge do abraço, meio com medo de que você chegue muito perto e perceba que ela não tem perfume. Nem viço.

Gosto de ouvir as diversas gentes, gosto que tenham voz aqueles que dizem o que não acredito. Eles dão sentido a tudo que creio.

Gosto de quem fala baixo, acho charmoso. Invejo. Gosto de quem fala alto, me identifico.

Gosto de gente como quem brinca, como quem cria, como quem aprende. Observar me ensina, me molda, me aperfeiçoa e, às vezes, me mete medo.

Em algumas gentes que olho, cá de fora, vejo uma mácula que apodrece minha alma e envergonha minha natureza. Ai eu choro. Choro baixinho, acreditando que talvez exista esperança para aquele tipo de gente.

Admiro o bruto, o egoísta, o ignorante. Admiro sua capacidade de se assumir como tal. O respeito e observo.

Mas existe um tipo de gente do qual tenho asco: o hipócrita. E dentro da categoria de hipócritas a que mais me causa nojo é o que usa de hipocrisia através da religião. Toda minha vida se baseia na tese da grandeza da criação. Todas as minhas crenças se baseiam na irmandade de nossa matéria, na infinitude de nossa alma e na busca pela unidade.

Tenho asco daqueles que usam do sagrado, do divino, para justificar suas mazelas, suas escolhas, suas falas torpes. Usam da religião para propagar suas próprias pretensas e mentirosas santidades. Muitos jamais tiveram em mãos, como leitores, o livro que intitulam sagrado. Não gastam seu tempo para ler. Como marionetes em um balé macabro, repetem frases isoladas, se apoderam de um direito que não lhes pertence; tiram vidas com o fel de suas salivas. Tudo em nome da fé.

Hipócritas. Desde o princípio dos tempos vocês existem. Sob a pretensa desculpa de serem defensores do Criador (como se acaso um Criador fosse precisar de vocês para O defender) destilam seus próprios orgulhos enquanto escondem na calada da noite a orgia que alimenta sua alma podre.

Deste tipo de gente eu tomo distância segura, mas não muita, mantenho certo desejo insano de vê-los repetindo suas mentiras. Pois tão certo como vive minha alma o dia do acerto há de chegar, para todos nós. E hoje este é meu único alento. A certeza de que ninguém foge do próprio espelho.
Bora, pois amar ainda é minha sina. Quero continuar amando, todas as gentes, como gente que sou.

(Texto postado originalmente em Aspirinasurubu.com.br)

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