quinta-feira, 22 de novembro de 2018

O Tempo e eu

(Publicado originalmente no blog aspirinasurubu.com.br)

Nestes anos todos quanto de mim ficou pelo caminho e principalmente quanto do caminho ficou em mim.

Mudei de emprego. Trouxe comigo amigos queridos e fiz outros pelo caminho.

Profissionalmente devo dizer que aprendi, reaprendi e aprendi de novo, justamente aí descobri que deveria aprender tudo novamente. E assim, sigo ganhando meu pão como quem brinca, pois quem trabalha com o que ama recebe salário dobrado.

Também casei de novo. Pois é cara, eu fiz isto. Nos últimos anos casei pela segunda vez.

E faria de novo. E de novo. Quando já se perdeu tanto no caminho você perde, também, o receio de perder mais. Ser feliz não é um risco. Ser feliz é uma escolha. E eu escolho ser e fazer feliz, nada menos.

Minha filha cresceu. O tempo passou tão depressa, de fato, tanto tempo fez dela mulher, 22 anos de pura inquietação. E eu ainda estou aqui tentando entender onde faço parte disto tudo. Onde é que faço parte dela. Se é que faço.

Coisas boas permaneceram.

Amigos, minha mãe, a vontade de estrada. Também permanece a certeza de que só o incerto me explica. Continuo não dando a mínima para alguns velhos conceitos. Continuo me permitindo amar o outro, tocar o outro, viver o outro.

Continuo gostando de gente. Continuo cuidando da minha vida. Só da minha. Já é o bastante. Continuo não dando satisfação do que faço para quem absolutamente não tem nada a ver com isto. Continuo gostando de olhar as pessoas nos olhos e para tanto é necessária boa dose de integridade. Com o tempo aprendi que fidelidade e lealdade são escolhas. Não nos é natural. Nossa natureza insana é animal, negar ela é escolha consciente em momentos decisivos.

Acredito profundamente em velhas verdades que aprendi e rejeito outras que jamais aceitarei por convenção. De todas as verdades que carrego a que me cativa mais é que diz que toda convicção é uma prisão. Me permito hoje não ter nenhuma convicção, ainda que eu morresse por algumas.

O fato é que os anos, todos eles, nos trazem muito mais quer rugas e cabelos grisalhos. E eu os tenho aos montes. Os anos nos trazem esta coisa pulsante que somos nós, dentro deste corpo que segue indo embora.

Eu sigo e juro, tento não parar.

A vida, esta não para mesmo, e tenho certeza que ela tenta não me devorar.

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